A tensão entre a Rússia e o Ocidente vem crescendo gradualmente no Ártico. Na sexta-feira (20), o ministro das Relações Exteriores russo Sergei Lavrov culpou a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) pela situação e sugeriu que um confronto na região não pode ser descartado.
“Vemos a Otan intensificando exercícios relacionados a possíveis crises no Ártico. Nosso país está totalmente pronto para defender seus interesses militarmente, politicamente e do ponto de vista das tecnologias de defesa”, disse Lavrov, segundo a agência estatal russa Tass.
A região, no norte do planeta, tem áreas pertencentes a sete nações da Otan, além da própria Rússia: Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Canadá, Estados Unidos e Islândia.
A região movimenta também interesses econômicos, e o Departamento de Defesa dos EUA chegou a manifestar em julho preocupação com a presença crescente de russos e também de chineses. A parceria entre Moscou e Beijing está focada sobretudo na exploração de novas rotas comerciais, embora tenha fins também militares.
“Cada vez mais, a RPC (República Popular da China) e a Rússia estão colaborando no Ártico por meio de múltiplos instrumentos de poder nacional”, disse o Pentágono na ocasião. “Embora ainda existam áreas significativas de desacordo entre a RPC e a Rússia, seu crescente alinhamento na região é preocupante, e o Pentágono continua monitorando essa cooperação.”
Para Moscou, as rotas árticas se tornaram uma importante alternativa para entrega de petróleo a Beijing em meio às sanções ocidentais impostas à Rússia em função da guerra da Ucrânia. Já a China consegue diversificar suas rotas de navegação, hoje concentradas no Oceano Índico.
Atualmente, o governo chinês depende excessivamente do Estreito de Malaca, que liga os oceanos Índico e Pacífico e por onde passa cerca de 40% do comércio mundial, bem como 80% de todo petróleo e 11% de todo gás importados pela China. Trata-se de uma importante vulnerabilidade estratégica apontada por especialistas em segurança.
Lavrov, que classificou Beijing como ‘parceiro estratégico”, legitimou os interesses chineses no Ártico e afirmou que a atuação militar ocidental não se restringe a Washington, citando ainda a Noruega como um incômodo. Segundo ele, a aliança militar transatlântica “também tem seus próprios interesses, devido à localização geográfica”, mas não tem o direito de tratar o Ártico como seu território.
Em julho, Moscou disse que enviou jatos militares para evitar que bombardeiros norte-americanos cruzassem a fronteira russa sobre o Mar de Barents. Os militares dos EUA minimizaram a situação e alegaram que frequentemente realizam voos sobre águas internacionais. As operações, segundo eles, ocorrem em espaço aéreo neutro e estão em conformidade com o direito internacional.