Rússia culpa ‘provocação encenada’ em Bucha por morte em embaixada

Autoridades romenas investigam se foi acidente ou se o motorista tentou derrubar o portão. Moscou já tirou suas próprias conclusões

Um automóvel bateu contra o portão da embaixada da Rússia em Bucareste, na Romênia, na manhã de quarta-feira (6). O veículo não conseguiu ultrapassar a barreira e pegou fogo após o acidente, matando o motorista. Enquanto as autoridades locais investigam o caso Moscou tirou suas próprias conclusões e afirmou que o episódio está diretamente relacionado ao que chamou de “provocação encenada na cidade de Bucha“.

Logo após a batida, membros das forças de segurança da embaixada se dirigiram ao local do acidente. Os bombeiros foram acionados e conseguiram controlar as chamas, mas o homem dentro do carro já estava morto, de acordo com a revista Forbes. Imagens do veículo em chamas foram reproduzidas nas redes sociais.

De acordo com as autoridades romenas, que continuam a investigar o episódio, ainda não está claro se trata-se de um acidente ou se o motorista tentou deliberadamente derrubar o portão e entrar na embaixada, possivelmente em protesto contra a guerra na Ucrânia.

Entretanto, a missão diplomática russa na Romênia emitiu um comunicado sobre o caso e deixou bem clara sua posição de que o episódio está ligado ao conflito. No texto, a morte do homem é associada ao massacre de Bucha, e Moscou repete a alegação de que considera as imagens chocantes de civis mortos na cidade ucraniana uma armação do Ocidente.

“Devemos declarar com pesar que quaisquer que sejam os motivos do motorista, não há dúvida de que ele cometeu este ato sob a influência de uma explosão de histeria antirrussa em conexão com uma provocação encenada na cidade de Bucha”, diz o texto oficial.

O comunicado também se dirige à família do homem, citado como a única vítima. “A Embaixada expressa profundas condolências aos familiares e amigos do homem que se incendiou num automóvel após uma tentativa falha de arrombar os portões da Embaixada da Rússia na Roménia”, diz o documento, que completa. “Nenhum dos funcionários da embaixada e das forças policiais romenas ficou ferido”.

Imagem da fachada da embaixada russa em Bucareste (Foto: Wikimedia Commons)

O Massacre de Bucha

Os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas da cidade ucraniana de Bucha quando as tropas locais reconquistaram a área, três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.

“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.

Após a divulgação das cenas chocantes, o presidente norte-americano Joe Biden pediu mais uma vez que Vladimir Putin seja julgado por crimes de guerra. “Vocês devem lembrar que fui criticado por chamar Putin de criminoso de guerra”, disse o líder norte-americano. “Bem, a verdade é que você viu o que aconteceu em Bucha. Isso garante: ele é um criminoso de guerra. Mas temos que reunir as provas”.

Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.

Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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