Rússia deporta crianças ucranianas em esforço para ‘despovoar’ regiões ocupadas, diz relatório

De acordo com o Centro de Resistência Ucraniana, Moscou realizou exames médicos em 15 mil crianças e disse que 70% precisam ser deportadas para tratamento. Elas acabam não voltando para casa

Sob o pretexto de reabilitação médica, autoridades russas continuam os esforços para deportar crianças ucranianas, no que seria uma “campanha de despovoamento deliberada” nos territórios ocupados. As informações são da revista Newsweek.

Em seu mais recente relatório, divulgado no sábado (26), o think tank Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), sediado nos EUA, relatou que das 15 mil crianças que receberam esses exames, 70% foram informadas de que necessitam de “cuidados médicos especiais” e precisam ser realocadas para a Rússia para tratamento.

De acordo com o Centro de Resistência Ucraniana, que fez o levantamento, Moscou está tentando provocar transições demográficas em áreas ocupadas com tal esquema de deportação forçada. A partir dele, as autoridades russas esperam que as famílias das crianças viajem para a Rússia para buscar os filhos após tratamento médico. Porém, ao término dos atendimentos, ficam impedidas de voltar para casa, sendo forçadas a permanecer em território russo, disse o centro. 

Centenas de milhares de crianças foram realocadas para a Rússia, segundo Kiev (Foto: WikiCommons)

A deportação em massa forçada de pessoas durante um conflito é classificada pelo Direito Internacional Humanitário como um crime de guerra. A “transferência forçada de crianças”, particularmente, configura um ato genocida.

O crime se enquadra no conceito estabelecido pela Convenção de Genocídio de 1948, um tratado adotado pela Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) após o Holocausto. Ele define como genocídio a “intenção de destruir um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”.

O inverno está chegando

Às vésperas de um inverno rigoroso, a Rússia tem lançado numerosos ataques de mísseis a instalações de energia em toda o território ucraniano, que resultaram em quedas de energia e apagões em todo o país.

Durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos EUA na entidade, disse que os ataques contra a rede elétrica ucraniana têm como objetivo congelar a Ucrânia e levar o país invadido “à submissão”.

“O motivo de Putin não poderia ser mais claro e mais frio. Ele está claramente armando o inverno para infligir imenso sofrimento ao povo ucraniano”, disse ela.

A infraestrutura essencial da Ucrânia, incluindo usinas elétricas e térmicas e centrais de água e esgoto, tem sido alvo de bombardeios russos desde o início da guerra, no dia 24 de fevereiro. Porém, ataques do gênero se intensificaram consideravelmente desde outubro, colocando em risco o fornecimento de energia, água potável e aquecimento. Com a proximidade do inverno, esta pode se tornar uma questão de vida ou morte para os civis ucranianos.

Na quarta-feira, após sofrer fortes ofensivas de mísseis russos, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, usou o Twitter para pedir uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas. 

“Assassinato de civis, destruição de infraestrutura civil são atos de terror. A Ucrânia continua exigindo uma resposta resoluta da comunidade internacional a esses crimes”, tuitou o líder.

Tags: