Rússia disparou pela primeira vez um míssil projetado para receber ogivas nucleares, diz Kiev

Presidente Volodymyr Zelensky diz que 'velocidade e altitude' do artefato 'sugerem capacidades balísticas intercontinentais'

A Ucrânia afirmou nesta quinta-feira (21) que a Rússia lançou um míssil balístico intercontinental (ICBM, na sigla em inglês) durante um ataque ao país, o que marcaria a primeira utilização conhecida de uma arma tão poderosa no conflito em curso. O míssil, possivelmente um RS-26 Rubezh com uma ogiva de 800 quilos, foi disparado da região russa de Astrakhan e teve como alvo a cidade de Dnipro, causando danos a infraestruturas críticas e ferindo duas pessoas.

“Hoje, nosso vizinho insano revelou mais uma vez sua verdadeira natureza — seu desdém pela dignidade, liberdade e a própria vida humana. E, acima de tudo, seu medo. Medo tão avassalador que ele libera míssil após míssil, vasculhando o globo em busca de mais armas — seja do Irã ou da Coreia do Norte“, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na rede social X, antigo Twitter. “Hoje, foi um novo míssil russo. Sua velocidade e altitude sugerem capacidades balísticas intercontinentais. As investigações estão em andamento.”

Especialistas em segurança citados pela agência Reuters destacam que, se confirmado, este seria o primeiro uso militar de um ICBM, arma estratégica geralmente projetada para transportar ogivas nucleares. Não há, no entanto, indicações de que o míssil estivesse armado com tal dispositivo de destruição em massa.

“Se for verdade, isso será totalmente sem precedentes e o primeiro uso militar real de um ICBM”, disse o analista Andrey Baklitskiy, do Instituto das Nações Unidas para Pesquisa de Desarmamento. 

Este ataque ocorre após a Ucrânia ter lançado mísseis fornecidos por Estados Unidos e Reino Unido contra alvos em território russo no início da semana, apesar dos avisos de Moscou de que consideraria tais ações como uma escalada significativa.

Questionado, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, se recusou a comentar a alegação da Ucrânia, de acordo com o jornal The Moscow Times. Ele disse a jornalistas que as perguntas sobre o suposto lançamento deveriam ser direcionadas aos militares russos.

Por sua vez, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, interrompeu uma reunião matinal com a imprensa para atender um telefonema. Testemunhas afirmam que uma voz masculina pôde ser ouvida dizendo para ela “não comentar nada” sobre “ataques com mísseis balísticos”.

Forças Armadas da Rússia disparam míssil na guerra da Ucrânia, abril de 2022 (Foto: facebook/mod.mil.rus)
Escalada significativa

Os ataques ocorreram após o presidente dos norte-americano, Joe Biden, autorizar Kiev a usar armas fornecidas por seu país para ataques dentro do território russo, marcando uma mudança significativa na dinâmica da guerra entre Kiev e Moscou. A decisão atendeu às demandas do governo ucraniano, que argumentava que a impossibilidade de atingir alvos em solo russo limitava sua capacidade de neutralizar ameaças cruciais, como bases de lançamento de mísseis e centros logísticos.

Em resposta ao aval dos EUA, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou uma mudança na doutrina nuclear do país e assim reduziu o limiar para um ataque com armas de destruição em massa. O texto estabelece que qualquer ação ofensiva massiva contra a Rússia, mesmo com armamento convencional, pode ser interpretado como uma agressão conjunta caso envolva uma potência nuclear, ainda que indiretamente. 

A comunidade internacional observa com preocupação o aumento das hostilidades, especialmente com o uso de armamentos de longo alcance pelos dois lados. Analistas sugerem que os dois países buscam fortalecer suas posições antes de possíveis negociações de paz, à medida que o mandato de Biden caminha para o fim e a presidência de Donald Trump se aproxima

Enquanto isso, a população de Dnipro e outras regiões afetadas enfrentam as consequências dos ataques russos, com danos significativos a infraestruturas e serviços essenciais. As autoridades ucranianas continuam a avaliar os danos e a coordenar esforços de resposta e reconstrução. 

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