Rússia treinou ataque contra nações europeias com mísseis nucleares, revelam documentos

Arquivos mostram que o Kremlin está disposto a recorrer a um ataque nuclear rapidamente, ainda no início de um eventual conflito

A Marinha da Rússia realizou treinamentos de ataque contra a Europa usando mísseis com capacidade nuclear, em preparação para um possível confronto com a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A informação consta de documentos confidenciais vistos pelo jornal Financial Times (FT).

O material que confirma a preparação russa é composto por 29 arquivos militares anteriores à invasão da Ucrânia, que aconteceu no dia 22 de fevereiro de 2022. Os mapas visualizados pela reportagem apontam 32 alvos potenciais, entre eles cidades da França e do Reino Unido. Ou seja, Moscou não se limitaria a atacar nações da fronteira oriental da aliança, suas vizinhas.

Os documentos, revelados por autoridades ocidentais que os analisaram, não surpreenderam a Otan, pois estão de acordo com o que a aliança esperava de um eventual conflito com as forças russas. E reforçam uma suspeita que já existia: o Kremlin está disposto a recorrer a um ataque nuclear rapidamente, ainda no início de uma eventual guerra com os aliados ocidentais.

Míssil russo com capacidade nuclear (Foto: reprodução/Facebook)

Uma novidade considerada preocupante pelas fontes ouvidas pelo FT é a capacidade da Marinha da Rússia de transportar armas nucleares em navios de superfície, não apenas em submarinos. A “alta manobrabilidade” permitiria a Moscou realizar “ataques repentinos e preventivos” e “ataques massivos de mísseis” partindo de “várias direções”.

A revelação surge em um momento particularmente preocupante para os aliados ocidentais, conforme Moscou ultrapassa a retórica inflamada e adota medidas práticas ligadas a seu arsenal de armas de destruição em massa. Um ponto delicado é a possível flexibilização de sua doutrina nuclear, o que facilitaria o uso do armamento. Outro, a realização de exercícios militares com armas táticas.

Tais exercícios não são raros, mas geralmente envolvem as armas nucleares estratégicas, aquelas com alto poder de destruição, como as que os EUA usaram contra Hiroshima e Nagasaki em 1945. Entretanto, nas recentes manobras, Moscou usou armas nucleares táticas, menos poderosas e voltadas a neutralizar posições inimigas. Justamente aquelas envolvidas nos treinamentos citados pelos documentos.

Para não se prender a regras muito rígidas caso entenda necessário usar seu arsenal de destruição em massa, o presidente Vladimir Putin sugeriu em junho, no Fórum Internacional Econômico de São Petesburgo, que a doutrina nuclear do país está sujeita a alterações, atreladas à pressão que Moscou alega sofrer do Ocidente.

O vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, reforçou tal possibilidade ao dizer que o país não descarta mudar sua doutrina nuclear. Atualmente, a regra prevê o uso do arsenal em resposta a um eventual ataque nos mesmos moldes realizado por outra nação ou para reagir a uma situação extrema que coloque a própria existência do Estado russo em risco.

Porém, sob o argumento de reagir ao que chamou de “ações de escalada” por parte dos EUA e da Otan, Ryabkov disse que o conjunto de regras pode ser flexibilizado, sem dar maiores detalhes sobre as mudanças que seriam implementadas.

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