A cidade de Bor, na Sérvia, atingiu níveis muito acima do aceitável de poluição do ar neste ano. Desde o começo de 2021, a presença de dióxido de enxofre no ar superou o limite diário em 15 ocasiões, sendo que o máximo permitido por lei é de três vezes no ano. As informações são do site Balkan Green Energy News.
Bor é sede de uma mina de cobre atualmente gerenciada pela chinesa Zijin Mining Group, que detém 63% do negócio, em parceria com o governo nacional. Além da exploração, a companhia realiza ali a fundição do metal, o que contribui para a péssima qualidade do ar.
O problema de poluição em Bor é antigo, mas se intensificou desde que os chineses assumiram o controle da mina e da fundição, em 2018. E já se tornou um hábito da população local a publicação de fotos e vídeos online sobre a péssima qualidade do ar na cidade.
Um dos vídeos, feito de uma posição elevada, mostra uma densa nuvem de poluição cobrindo Bor.
“Nós nos sentimos sufocados. Não consigo descrever quanto a fumaça é pesada. Sofremos mais no verão, nas primeiras horas da manhã, quando levamos as crianças à escola”, disse Milica Nikodijević, moradora de Bor. “Imagine como é não conseguir abrir as janelas com uma temperatura de 40º C. Eu cresci em um bairro que era o mais exposto ao pó da cinza de pirita, mas agora acontece que a fumaça cobre toda a cidade”.
Segundo Dejan Lekić, que desenvolveu um aplicativo para analisar a qualidade do ar, o dióxido de enxofre tem se espalhado mais, atingindo regiões mais afastadas da mina. Assim, uma quantidade maior de pessoas tem sido exposta ao gás.
Nikodijević afirmou que as reclamações da população não surtem efeito. “As pessoas fazem protestos todos os anos, geralmente no verão. Em seguida, a empresa afirma que fará manutenção e instalará filtros. Então, eles fazem algo que torna mais fácil respirar por um curto período, mas depois fica poluído novamente”, afirmou.
Por que isso importa?
A Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative) é uma iniciativa da China para espalhar sua influência através do investimento em projetos de todo o mundo, voltados sobretudo a infraestrutura e transporte. A Sérvia é peça importante da iniciativa chinesa, mas não sem pagar um alto preço por isso. Sobretudo no que tange ao meio-ambiente.
“Um dos motivos por trás da Nova Rota da Seda é a terceirização da poluição e da degradação ambiental para países mais pobres e distantes, com extrema necessidade de financiamento de infraestrutura e desenvolvimento socioeconômico, cujos governos ignoram os riscos ambientais”, diz Vuk Vuksanovic, pesquisador da Escola de Economia e Ciências Políticas de Londres.
Entre 2010 e 2019, a China investiu 1,6 bilhão de euros na Sérvia, que ainda recebeu outros 7 bilhões de euros em empréstimos chineses para obras de infraestrutura. O problema é o que acompanha os investimentos.
“A Sérvia está importando da China projetos econômicos prejudiciais ao meio-ambiente, ao mesmo tempo em que adota o modelo político chinês no qual a elite sacrifica a segurança ambiental e a saúde pública em prol do crescimento econômico e para permanecer no poder”, afirma o pesquisador.
No caso da Sérvia, as empresas chinesas não se enquadram nos rígidos padrões ambientais da Europa, e assim surgem os efeitos nefastos do alto investimento sem projeção prévia do impacto ambiental.