Suspenso em março, canal de TV russo retoma transmissões no YouTube direto da Letônia

Dozhd TV teve suas atividades suspensas em março por conta da lei de “notícias falsas” sobre operações militares russas imposta pelo Kremlin

Com operações suspensas desde março devido a uma “desarmonia” jornalística com a narrativa oficial do governo da Rússia sobre a guerra na Ucrânia, a emissora independente Dozhd TV (Chuva TV, em tradução literal) anunciou nesta segunda-feira (18) que irá voltar a transmitir alguns de seus programas da Letônia. As informações são da rede Radio Free Europe.

A diretora-geral e proprietária do veículo, Natalya Sindeyeva, disse que o canal irá retomar seus programas noturnos de forma online após quatro meses sem atividades. Segundo ela, trata-se de um retorno gradual, que antecede “o grande e sério” relançamento da emissora que deve ocorrer nos próximos meses, já com estúdio totalmente equipado e mobiliado.

“A primeira transmissão no YouTube começará às 20h, horário de Moscou”, disse a rede em comunicado.

Programação da emissora estava suspensa desde março (Foto: Kremlin.ru/Divulgação)

A base agora fica nos Bálcãs, onde o Conselho Nacional de Mídia Eletrônica da Letônia anunciou em junho a concessão de uma licença de transmissão. O canal, rotulado como “agente estrangeiro” pelo governo russo, também ganhará estúdios em Amsterdã, Tbilisi e Paris.

“Primeiro, vamos retomar a transmissão do noticiário. Então, vamos trazer os talk shows de volta. Depois, vamos começar a produzir mais conteúdo. Planejamos lançar vários novos projetos”, detalhou.

O anúncio surge um dia após o editor-chefe da Dozhd, Tikhon Dzyadko, ter revelado que ele e vários outros jornalistas da emissora saíram da Rússia por conta da perseguição do Kremlin e a consequente preocupação com a segurança.

Desde que Moscou mandou suas tropas invadirem o país vizinho no final de fevereiro, o presidente russo Vladimir Putin aumentou sua produção de propaganda e reprimiu ainda mais a liberdade de imprensa no país.

Por que isso importa?

A principal ferramenta de censura do Kremlin para reprimir a oposição e silenciar os meios de comunicação não alinhados com o governo é uma lei que criminaliza a distribuição do que o Kremlin considere “notícias falsas” sobre operações militares russas.

Desde o início do conflito, o Roskomnadzor, órgão estatal regulador da mídia na Rússia, tem acusado inúmeros veículos de imprensa locais dentro dessa normativa legal.

O governo contesta quaisquer relatos de bombardeios russos a cidades ucranianas e baixas civis, bem como textos que usam expressões como “ataque”, “invasão” ou “declaração de guerra”. Moscou exige que se fale em “operação militar especial” e determina que sejam publicadas apenas informações distribuídas por fontes do governo.

Nesse cenário, autoridades ameaçaram multar ou bloquear meios de comunicação independentes se não apagassem publicações sobre o conflito, de acordo com a ONG Human Rights Watch (HRW). Moscou ainda interferiu no acesso ao Facebook e ao Twitter e bloqueou outros sites de mídia cujas publicações não seguiam as diretrizes da propaganda do Kremlin.

Tags: