A ameaça de uma possível ofensiva russa tem levado países do Leste Europeu a tomar medidas drásticas para reforçar suas fronteiras. Cinco membros da Otan (Organização do Tratado do Atlãntico Norte) — Finlândia, Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia — anunciaram a retirada do Tratado de Ottawa, acordo internacional que proíbe o uso, produção e transferência de minas antipessoais. A decisão abre caminho para que esses países retomem, já no fim de 2025, a produção e o armazenamento do armamento em pontos próximos à fronteira. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).
A medida marca um novo capítulo na escalada militar desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022. Desde então, esses países já haviam investido em cercas, sistemas de vigilância, trincheiras e barreiras naturais para conter possíveis avanços. Agora, a adoção de minas terrestres seria, segundo analistas da Otan, um elemento a mais na estratégia de dissuasão. A Noruega, única nação da região que não rompeu com o tratado, manterá sua posição de respeito à convenção internacional.

Embora polêmicas e de alto custo humano, as minas antipessoais são vistas como uma forma de resposta rápida em caso de ataque. O plano prevê sua instalação ao longo dos cerca de 3,5 mil quilômetros de fronteiras entre os cinco países e a Rússia ou Belarus. Em áreas densamente florestadas e pouco povoadas, o objetivo é impor grandes perdas ao inimigo logo no início de uma invasão, o que poderia desestimular uma guerra prolongada.
Contudo, o impacto de tais armas vai muito além do campo de batalha. Segundo a organização Handicap International, 58 países ainda enfrentam contaminação por minas, décadas após o fim de seus conflitos. Em 2023, quase seis mil pessoas morreram ou ficaram feridas em acidentes com esse tipo de armamento, 80% delas civis, inclusive muitas crianças. A limpeza é lenta, cara e perigosa.
A Lituânia, por exemplo, planeja investir 800 milhões de euros na produção de novas minas nos próximos anos. O ministro da Defesa do país, Dovile Sakaliene, justificou a decisão com base na ameaça que considera existencial: “A Rússia tem fabricado cada vez mais minas, enquanto a Europa destruiu seus estoques em nome do tratado”.
A diretora jurídica da Handicap International na Alemanha, Eva Maria Fischer, criticou a decisão dos países europeus. “Claro que as preocupações de segurança podem ser justificadas no atual contexto internacional instável”, afirmou em março. “No entanto, segurança duradoura não pode ser construída com armas que matam indiscriminadamente, permanecem no solo após os conflitos e continuam a mutilar civis e destruir meios de subsistência”.