O Ministério da Defesa da Rússia afirmou na quarta-feira (31), através de seu canal no Telegram, que as tropas do país receberão treinamento para usar armas nucleares táticas em situação de combate. A informação foi reproduzida pelo jornal The Telegraph.
“A fase atual do exercício visa garantir a prontidão de pessoal e equipamentos de unidades para o uso de armas nucleares não estratégicas na Rússia para realizar missões de combate”, diz o comunicado, segundo o qual os soldados serão preparados para usar os mísseis Iskander-M a partir de lançadores diversos, inclusive aeronaves.
Desde o início da guerra da Ucrânia, Moscou fala em usar seu arsenal nuclear não apenas contra Kiev, mas também em resposta a eventuais ações hostis do Ocidente. As ameaças não têm recebido respostas muito duras dos rivais, mas certas movimentações do governo russo sugerem que deveriam ser levadas mais a sério.

Atualmente, Moscou vai além da retórica inflamada e adota medidas práticas preocupantes, ao cogitar flexibilizar sua doutrina nuclear, facilitando assim o uso do armamento, e ao realizar exercícios militares com armas táticas.
Tais exercícios não são raros, mas geralmente envolvem as armas nucleares estratégicas, aquelas com alto poder de destruição, como as que os EUA usaram contra Hiroshima e Nagasaki em 1945. Entretanto, nas recentes manobras, Moscou usa armas nucleares táticas, menos poderosas e voltadas a neutralizar posições inimigas. Justamente aquelas envolvidas nos treinamentos citados pelo Ministério da Defesa.
Para não se prender a regras muito rígidas caso entenda necessário usar seu arsenal de destruição em massa, o presidente Vladimir Putin sugeriu em junho, no Fórum Internacional Econômico de São Petesburgo, que a doutrina nuclear do país está sujeita a alterações, atreladas à pressão que Moscou alega sofrer do Ocidente.
O vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, reforçou tal possibilidade ao dizer que o país não descarta mudar sua doutrina nuclear. Atualmente, a regra prevê o uso do arsenal em resposta a um eventual ataque nos mesmos moldes realizado por outra nação ou para reagir a uma situação extrema que coloque a própria existência do Estado russo em risco.
Porém, sob o argumento de reagir ao que chamou de “ações de escalada” por parte dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Ryabkov disse que o conjunto de regras pode ser flexibilizado, sem dar maiores detalhes sobre as mudanças que seriam implementadas.