Turquia fecha seu espaço aéreo para voos da Armênia em resposta a monumento controverso

A decisão de Ancara foi tomada como retaliação à inauguração de um monumento em Yerevan dedicado à operação secreta "Nêmesis", que matou autoridades turcas

A Turquia fechou na quarta-feira (3) seu espaço aéreo para voos da Armênia em resposta à inauguração de um monumento em Yerevan dedicado a uma operação coordenada há um século que homenageia os responsáveis ​​pela morte de autoridades turcas. As informações são da rede Foxs News.

O comunicado foi feito pelo ministro das Relações Exteriores turco Mevlut Cavusoglu em entrevista à emissora estatal NTV. Ele usou como justificativa o fato de que, entre 1920 e 1922, a operação secreta “Nêmesis” levou à morte ex-oficiais otomanos considerados responsáveis ​​pela matança de 1915, bem como azeris envolvidos em assassinatos de armênios em Baku em 1918.

“Não podemos aceitar isso. Podemos ver claramente que suas intenções não são boas”, disse Cavusoglu.

O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu (Foto: WikiCommons)

Segundo Ancara, o monumento inaugurado na capital armênia na semana passada é “vergonhoso” e “glorifica um sangrento movimento terrorista que levou a covardes ataques terroristas onde 31 de nossos diplomatas e membros de suas famílias foram mortos”.

A medida estremece uma atmosfera de reaproximação entre os países, que não têm relações diplomáticas e estão em negociações para normalizar os laços após décadas. Tanto que enviados especiais realizaram várias rodadas de negociações, chegando a um acordo para retomar os voos fretados entre Istambul e Yerevan.

A Turquia abriu pela primeira vez a fronteira entre os dois países em fevereiro, quando a Armênia enviou ajuda humanitária e trabalhadores humanitários após os terremotos simultâneos que mataram mais de 50 mil pessoas.

Em comunicado, o Departamento de Estado dos EUA expressou sua preocupação com a decisão da Turquia de suspender a licença de voo para as companhias aéreas armênias.

“Os Estados Unidos apoiam fortemente a normalização Armênia-Turquia, o que seria bom para toda a região. Notamos com desapontamento o anúncio da Turquia de que suspenderia as permissões de sobrevoo das companhias aéreas armênias. Os acordos anteriormente alcançados entre eles para retomar as conexões aéreas foram importantes medidas de confiança. É nossa sincera esperança que a Turquia e a Armênia possam continuar a reconstruir os laços econômicos e abrir as ligações de transporte”, disse o vice-porta-voz do órgão governamental, Vidant Patel.

O genocídio

O genocídio – assim visto por historiadores – na Armênia em 1915, perpetrado pelos turcos, tirou a vida de 1,5 milhão de armênios no contexto da dissolução do Império Otomano e da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Por conta desse episódio, que envolveu massacres, deportações e marchas forçadas, os dois países têm uma relação amarga de mais de um século.

A partir de 1915, o Império Otomano impôs uma política de violência e deportação forçada de armênios étnicos que viviam na porção leste da Anatólia, península que abriga a atual Turquia. Ali, a população era composta em sua maioria por muçulmanos curdos e cristãos armênios, ambos de identidade pouco identificada com os turcos.

No início da I Guerra, eram 2,5 milhões de armênios otomanos, concentrados em cidades de maioria da mesma etnia. Também havia grupos além das fronteiras imperiais, já em território controlado pela Rússia. A partir do século 19, o grupo passa a ser visto pelo governo como um possível foco de separatismo e instabilidade dentro do império. Entre 1894 e 1896, ocorrem os primeiros massacres.

Naquele contexto, o grupo denominado “Jovens Turcos” dominava a política otomana que marcou os últimos anos de decadência do império – dissolvido após o fim da I Guerra, em 1923.

Em 24 de abril de 1915, o governo ordena a prisão de 250 intelectuais e políticos armênios em Istambul, ocasião que marca o início do genocídio. Até 1923, os armênios foram considerados ameaça à segurança nacional e deportados para as regiões mais afastadas e desérticas do Império, na atual Síria.

Os poucos que sobreviviam à jornada eram abrigados em campos de concentração. Estimativas conservadoras põem na faixa de 600 mil a um milhão de armênios mortos apenas em decorrência das políticas de expulsão. As terras e propriedades armênias foram ocupadas por turcos e outros refugiados muçulmanos, e quem permaneceu foi forçado a se converter ao Islã.

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