Ucranianos de territórios ocupados foram forçados a ir à guerra pela Rússia, diz Kiev

Autoridade ucraniana diz que Moscou mobilizou entre 55 mil e 60 mil pessoas e as colocou na linha de frente do conflito

Entre 55 mil e 60 mil cidadãos de territórios ucranianos ocupados pela Rússia foram forçados a servir ao exército russo na guerra contra a Ucrânia. Andriy Chernyak, um oficial dos serviços de inteligência de Kiev, fez a denúncia na segunda-feira (31), segundo o site independente Meduza.

“É uma mobilização forçada: os ocupantes pegavam as pessoas nas ruas ou entravam nos poucos estabelecimentos que ainda funcionavam e levavam as pessoas à força”, declarou Chernyak, referindo-se sobretudo às regiões de Donetsk e Luhansk, ocupadas por Moscou desde 2014. “Eles simplesmente os colocaram em uniformes e os enviaram ao front.”

A autoridade ucraniana disse ainda que os russos prometiam aos mobilizados que seriam posicionados na segunda ou terceira linha de defesa, onde os riscos são menores. Porém, chegando ao campo de batalhas, eram colocadas na linha de frente, com chances consideravelmente mais altas de serem mortos.

Segundo ele, estudantes também foram alvo da mobilização forçada. “Uma pessoa iria para a aula uma manhã e dois dias depois estaria em uma batalha. Estritamente falando, a Rússia não considera residentes das regiões de Donetsk ou Luhansk pessoas, então eles não se importam se estão seguindo a lei”, disse.

Soldados do exército da Rússia (Foto: reprodução/Facebook)
Crimes de guerra

Desde o início da guerra, acumulam-se denúncias de abusos cometidos por Moscou na Ucrânia ocupada. Entre eles a deportação ilegal de crianças ucranianas, muitas delas adotadas por famílias russas. Tal crime rendeu um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) contra o presidente russo Vladimir Putin e contra Maria Lvova-Belova, comissária russa para os direitos da criança.

Na segunda-feira (31), Lvova-Belova admitiu que a Rússia recebeu cerca de 700 mil crianças ucranianas, algumas acompanhadas de parentes, outras supostamente órfãs. E que algumas foram entregues a famílias russas para adoção.

Segundo ela, Moscou teria abrigado 4,8 milhões de ucranianos, sendo 700 mil menores de idade. Dessas crianças, 1,5 mil chegaram desacompanhadas, provenientes de orfanatos ucranianos. A comissária citou especificamente os casos de 380 crianças que vieram da região de Donbass e foram adotadas por cidadãos russos.

Em artigo publicado na semana passada no site do think tank Center for European Policy Analysis (CEPA), a pesquisadora Elina Beketova denunciou que também tem sido realizado um processo de limpeza étnica em regiões ucranianas ocupadas.

“A estratégia russa é saturar a Ucrânia ocupada com outras etnias e obscurecer a identidade ucraniana”, diz ela, citando Mariupol, onde os ucranianos gradualmente vêm sendo substituídos por cidadãos de etnias russas. “A mudança na população está acontecendo tão rápido que, se a cidade não for libertada, 80% de sua população será russa dentro de cinco anos”, acrescenta o artigo

 

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