O Wagner Group, uma organização paramilitar que há até pouco tempo era envolta em mistério, resolveu definitivamente tornar sua existência pública. Na sexta-feira (4), o grupo inaugurou em São Petesburgo, a segunda maior cidade da Rússia, sua base central de operações, que servirá também como centro para desenvolvimento de novas tecnologias militares a serviço do país. As informações são do jornal independente The Moscow Times.
A base fica em um grande edifício com fachada de vidro que não apenas abrigará os mercenários russos. Também servirá como centro de incubação e sede para futuras “startups patrióticas”. Tamanha exposição do grupo, que até o início da guerra na Ucrânia sequer admitia sua própria existência, ocorre justamente em função do sucesso que obteve no campo de batalhas, apoiando as forças russas no país vizinho.
“Os wagneristas estão alcançando seus objetivos na linha de frente. Alcançaremos nossos objetivos aqui”, disse durante a inauguração Ruslan Ostashko, um blogueiro e apresentador de televisão pró-Kremlin. “Infelizmente, os conflitos militares sempre foram a força motriz por trás do avanço tecnológico”.
Já Konstantin Dolgov, mais um representante do grupo presente à inauguração do edifício, disse que a base servirá como “think tank, onde as pessoas, unidas por um objetivo, trabalharão na implementação de certas tarefas em benefício da Federação Russa”.
O chefe dos mercenários
Quem lidera o Wagner Group é Evgeny Prigozhin, importante aliado do presidente russo Vladimir Putin. Conhecido como “chef de Putin”, em função dos muitos contratos que suas empresas têm para fornecer refeições ao governo da Rússia, ele já havia aberto o jogo sobre a organização em setembro, revelando como surgiu o grupo de mercenários.
“Eu mesmo limpei as armas antigas, separei os coletes à prova de balas e encontrei especialistas que poderiam me ajudar com isso. A partir desse momento, em 1º de maio de 2014, nasceu um grupo de patriotas, que mais tarde passou a ser chamado de Wagner Group. Estou orgulhoso por ter conseguido defender o direito deles de proteger os interesses do país”, disse o empresário na ocasião.
Segundo Prigozhin, que não compareceu à inauguração, “o PMC Wagner Center é um complexo de edifícios onde desenvolvedores, designers, especialistas em TI, indústria experimental e startups podem ser abrigados”. E acrescentou, em comunicado enviado à imprensa local: “Se o projeto mostrar seu sucesso e relevância, consideraremos a abertura de mais filiais”.
Um dos novos habitantes da sede é Dmitry Zakhilov, que administra uma empresa de TI cujo principal produto serve para diagnosticar a propensão ao abuso de drogas entre adolescentes. O Wagner pretende usar a ferramenta com finalidade militar.
“O trabalho militar pressupõe uma enorme quantidade de estresse. O objetivo é manter a condição psicológica das tropas em níveis aceitáveis. Ajudaremos a atingir esse objetivo”, disse Zakhilov. “Ficar à margem não é uma opção. Independentemente de a Rússia estar certa ou errada, vejo meu futuro aqui, então apoio meu país”.
Por que isso importa?
O nome do Wagner Group remete ao pseudônimo do fundador Dmitriy ‘Wagner’ Valeryevich Utkin, que por sua vez tomou como referência o compositor alemão favorito de Hitler e um dos símbolos da Alemanha nazista. Posteriormente, Prigozhin tornou-se responsável pelo financiamento da organização e passou a ser a cara mais conhecida à frente dela.
A atuação do Wagner sempre foi envolta em mistério, inclusive com alegações de que sequer existia. Porém, as inesperadas dificuldades enfrentadas por Moscou na guerra na Ucrânia levaram o Kremlin a buscar reforços, e os mercenários surgiram como alternativa. A ponto de o grupo ter o nome citado na TV estatal e de ter criado uma campanha para recrutar novos membros na Rússia.
Há indícios de que ao menos dez mil pessoas já serviram ao Wagner Group desde que ele deu as caras pela primeira vez. Foi em 2014, quando os mercenários foram destacados para dar suporte às forças separatistas pró-Rússia da região de Donbass e na Crimeia, na Ucrânia.
De lá para cá, há sinais de presença do grupo em conflitos em diversos países. Os mercenários são acusados de inúmeros crimes de guerra, e agora acredita-se que por volta de mil deles estejam em ação na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro de 2022.