Aliado do presidente Vladimir Putin admite ter sido o fundador do Wagner Group

Evgeny Prigozhin diz que a organização paramilitar foi formada no dia 1º de maio de 2014: "Eu mesmo limpei as armas"

Evgeny Prigozhin, importante aliado do presidente russo Vladimir Putin, acabou de vez com qualquer dúvida e admitiu que foi o criador do Wagner Group, uma organização paramilitar que durante anos viveu cercada de mistério, mas que desde o início da guerra na Ucrânia passou a operar abertamente. As informações são do jornal britânico Guardian.

Conhecido como “chef de Putin”, em função dos muitos contratos que tem para fornecer refeições ao governo da Rússia, Prigozhin deu fim ao mistério em uma postagem na página da empresa dele, a Concord, na rede social russa VK.

“Eu mesmo limpei as armas antigas, separei os coletes à prova de balas e encontrei especialistas que poderiam me ajudar com isso. A partir desse momento, em 1º de maio de 2014, nasceu um grupo de patriotas, que mais tarde passou a ser chamado de Wagner Group. Estou orgulhoso por ter conseguido defender o direito deles de proteger os interesses do país”, disse o empresário.

Putin (esq.) e Prigozhin: aliança política e parceria militar (Foto: Wikimedia Commons)

Segundo ele, as frequentes negativas de que tinha qualquer relação com a organização paramilitar era uma forma de preservar os combatentes. Já a confissão surge alguns dias após a divulgação de um vídeo no qual ele estaria recrutando presidiários russos para se juntar ao Wagner.

No vídeo, um homem que se parece fisicamente com Prigozhin fala a um grande grupo de presos, todos com uniformes escuros. Ele se apresenta como membro do grupo e explica as condições que devem ser atendidas para o recrutamento. O contrato é para seis meses de serviços no campo de batalhas. Entre os avisos, o recrutador diz que desertores serão fuzilados.

Fim do mistério

O histórico de abusos dos direitos humanos do Wagner Group, que participou de lutas armadas na Líbia, na Síria, na República Centro-Africana e em Moçambique, entre outros, sempre forçou o Kremlin a negar qualquer relação com a milícia. Sequer admitia a existência dela, embora tenha sido crucial para manter o poder de separatistas pró-Moscou no leste da Ucrânia desde 2014. A guerra atual mudou esse cenário, a ponto de o grupo ter sido citado nominalmente na TV estatal russa.

Para manter o suporte ao exército russo, que tem perdido equipamento e pessoal num ritmo bem superior ao de qualquer projeção, o Wagner Group também tem recrutado abertamente novos membros em ao menos 27 das 85 regiões da Rússia, nas quais há uma campanha com faixas nas ruas, recrutadores ativos e processos online.

Há indícios de que ao menos dez mil pessoas já serviram à organização desde que ela deu as caras pela primeira vez há oito anos. De lá para cá, os mercenários foram acusados de inúmeros crimes de guerra, e agora acredita-se que por volta de mil deles estejam em ação na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro.

Quanto à relação com o Kremlin, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos EUA já designou o Wagner Group como uma “força de procuração do Ministério da Defesa da Rússia”, segundo artigo assinado por James Petrila e Phil Wasielewski e publicado no blog Lawfare.

Há cerca de um ano, um mercenário ouvido pela BBC afirmou que a organização “é uma estrutura que visa a promover os interesses do Estado para além das fronteiras do nosso país (a Rússia)”. E classificou os combatentes como “profissionais da guerra”, pessoas em busca de emprego ou apenas “românticos que querem servir seu país”.

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