Wagner Group tentou acessar armas nucleares, forçando Moscou a negociar fim do motim

Fontes russas e ucranianas dizem que mercenários invadiram uma base que teoricamente armazena pequenos dispositivos nucleares soviéticos

Uma nova teoria surgiu nos últimos dias para explicar o repentino fim do motim protagonizado pelo Wagner Group na Rússia entre os dias 23 e 24 de junho. Conforme marchavam rumo a Moscou, alguns dos mercenários mudaram a rota em direção a uma instalação militar que contém armas nucleares, o que levou o Kremlin a adotar uma postura conciliadora e negociar o fim repentino da rebelião. É o que afirma reportagem da agência Reuters, baseada em depoimentos de autoridades russas e ucranianas.

Imagens de vídeo e entrevistas com residentes indicam que um grupo de combatentes do Wagner mudou de rota em uma área rural do país, enquanto os demais seguiam para Moscou. De acordo com Kyrylo Budanov, chefe da inteligência militar da Ucrânia, os desgarrados se dirigiam à base Voronezh-45, que teoricamente armazena pequenos dispositivos nucleares dos tempos da extinta União Soviética.

Diz Budanov que os mercenários queriam ter acesso ao arsenal para “aumentar as apostas”, fortalecendo assim sua posição na rebelião liderada por Evgeny Prigozhin. “Porque, se você está preparado para lutar até o último homem de pé, esta é uma das instalações que significativamente aumenta as apostas”, disse ele.

Mercenários do Wagner Group em ação na Ucrânia (Foto: VK/Reprodução)

O ucraniano alega, ainda, que os homens conseguiram chegar à base, mas não tiveram acesso físico às armas, impedidos pelo sistema de segurança. “As portas do depósito estavam fechadas, e eles não entraram na seção técnica”, declarou.

Mesmo sem acesso efetivo do Wagner ao estoque nuclear, a situação delicada teria levado o governo russo a abrir negociações para encerrar o motim, de acordo com uma fonte do leste da Ucrânia que tem conhecimento do assunto. Aí entrou o presidente belarusso Alexander Lukashenko, que intermediou o acordo com Prigozhin para o fim da rebelião.

Budanov, por sua vez, não se posicionou sobre o que levou o motim a ser encerrado subitamente. Outras alegações dele, no entanto, foram parcialmente ratificadas por uma fonte próxima ao Kremlin, segundo quem os mercenários “conseguiram entrar em uma zona de interesse especial, motivo pelo qual os norte-americanos ficaram agitados porque as munições nucleares estão armazenadas lá.”

Os EUA, por sua vez, negam tais informações. “Não podemos corroborar este relatório. Não tivemos nenhuma indicação em nenhum momento de que armas ou materiais nucleares estivessem em risco”, disse Adam Hodge, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

Budanov insiste que os rebeldes estiveram perto de acessar as armas nucleares, embora não tenha exibido evidências disso. Segundo ele, os equipamentos que o Wagner buscava são pequenos, do tamanho de pequenas malas, e podem ser facilmente carregados por um só homem.

A base de Voronezh-45 é “uma das principais instalações de armazenamento dessas malas”, desenvolvidas durante a Guerra Fria, disse ele.

A própria existência dessas armas não é comprovada, embora haja indícios de que tenham de fato sido desenvolvidas. Em 1997, Alexei Yablokov, ex-conselheiro científico da presidência da Rússia, falou ao Congresso norte-americano que cientistas soviéticos criaram na década de 1970 munição nuclear do tamanho de malas, que seriam usadas por agentes de inteligência.

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