Aumento do nível do mar representa ‘sentença de morte’ para algumas nações, diz chefe da ONU

De Mumbai a Nova York, megacidades serão seriamente impactadas pelas mudanças climáticas, de acordo com António Guterres

O aumento do nível do mar é “uma sentença de morte” para países vulneráveis ao fenômeno. Citando a leniência global diante da questão das mudanças climáticas, o alerta foi dado pelo secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, na terça-feira (14). As informações são da agência Associated Press.

Falando durante debate do Conselho de Segurança da ONU, que também teve como pauta a ameaça à paz, Guterres aconselhou a comunidade global a enfrentar a crise climática, que ele disse ser a “raiz da elevação dos mares”. 

Segundo ele, os níveis globais nunca haviam subido tão acentuadamente desde o começo do século 20, e o crescimento impiedoso coloca em risco quase 900 milhões de pessoas que habitam áreas costeiras baixas, causando sérios impactos na China, Índia, Bangladesh e Holanda.

“Mares em ascensão são futuros em declínio. A elevação do nível do mar não é apenas uma ameaça em si. É um multiplicador de ameaças”, disse Guterres. 

Na praia de Cottesloe Beach, em Perth, na Austrália, placas projetam até onde chegará o nível do mar nas próximas duas décadas (Foto: go_greener_oz/Flickr)

Segundo o chefe das Nações Unidas, para as centenas de milhões de pessoas que vivem em pequenos Estados insulares em desenvolvimento e zonas costeiras em altitudes baixas – uma em cada dez pessoas na Terra –, “o aumento do nível do mar é uma torrente de problemas”.

Guterres também observou que os níveis médios globais do mar aumentaram mais rapidamente desde 1900 do que em qualquer século anterior nos últimos três mil anos, enquanto o oceano global aqueceu de forma mais célere no século passado do que em qualquer momento nos últimos 11 mil anos.

Mantendo um tom nada otimista, ele observou que o nível do mar aumentará significativamente mesmo se o aquecimento global for “milagrosamente” limitado a 1,5º Celsius, meta estabelecida pelo Acordo de Paris de 2015, tido como um avanço na ambição climática internacional.

“Nosso mundo está ultrapassando o limite de aquecimento de 1,5º C que um futuro habitável exige. E, com as políticas atuais, está se aproximando de 2,8º C, uma sentença de morte para países vulneráveis. Precisamos urgentemente de mais ações concertadas para reduzir as emissões e garantir a justiça climática”, afirmou, acrescentando que “as consequências são impensáveis”. 

Os dados citados por Guterres foram divulgados também na terça pela Organização Meteorológica Mundial (OMM). De acordo com o estudo, se o aquecimento for limitado a 1,5º C, o nível médio global do mar deve subir entre dois e três metros nos próximos dois mil anos. “Com um aumento de 2º C, os mares podem subir até seis metros. E, com um aumento de 5º C, podem ter elevação de até 22 metros”, detalhou a OMM.

Êxodo

Como num roteiro de cinema, comunidades baixas e países inteiros poderiam desaparecer, à medida que o mundo testemunharia um êxodo em massa de populações inteiras em “escala bíblica”, disse Guterres, tornando a competição por água doce, terra e outros recursos ainda mais dramática.

Além dos países ameaçados, o secretário-geral prevê que “megacidades em todos os continentes enfrentarão sérios efeitos, incluindo Cairo, Lagos, Maputo, Bangkok, Daca, Jacarta, Mumbai, Xangai, Copenhague, Londres, Los Angeles, Nova York, Buenos Aires e Santiago”.

Presente na reunião, a embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, observou que “a ameaça de aumento do nível do mar é real, é um resultado direto de nossa crise climática e é uma questão de paz e segurança internacional”.

“O conselho deve agir”, disse ela, apontando para a ameaça de que centenas de milhões de pessoas em áreas costeiras baixas percam suas casas, meios de subsistência e comunidades.

Responsabilidade das grandes potências

Em outubro, Guterres acusou os 20 países mais ricos do mundo de não fazerem o suficiente para evitar o superaquecimento global.

Já em novembro, durante a COP27, Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, os países participantes chegaram a um acordo sobre a criação de um mecanismo de financiamento para compensar as nações vulneráveis ​​por “perdas e danos” causados ​​por desastres induzidos pelo clima.

O chefe da ONU saudou a decisão, ressaltando que as vozes daqueles que estão na linha de frente do conflito da crise climática devem ser ouvidas.

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