Crise de fertilizantes arrasta metade do mundo para insegurança alimentar

Produtores e comerciantes favorecem o envio aos maiores mercados, sendo os países africanos os mais penalizados pela escassez

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) afirmou na quarta-feira (14) que 49 milhões de pessoas no mundo estão à beira da fome. A principal causa é a crise global de fertilizantes, com os preços dos insumos tendo aumentado 199% desde maio de 2020. Isso no momento em que o planeta já enfrenta uma demanda por assistência humanitária sem precedentes.

Com estações de plantio iminentes em grande parte do mundo, especialistas defendem que todos os agricultores obtenham fertilizantes a preços acessíveis. O produto é essencial à produção de alimentos.

Diante desse cenário, as previsões apontam para uma grande crise de alimentos em 2023, problema ampliado pelos choques climáticos e pelos outros conflitos que também afetam a produção. Os crescentes custos de comida e combustível agravam a situação principalmente dos mais pobres, muitos afetados por conflitos e mudanças climáticas.

Embora seja em parte visto como uma consequência da guerra na Ucrânia, o aumento dos preços de alimentos, combustíveis e fertilizantes já havia atingido níveis recordes no final de 2021. O conflito só piorou a situação, vez que a Rússia é um grande exportador de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK), três grandes grupos de fertilizantes.

Dessa forma, prevê-se uma queda de 2,4% da produção global de milho, arroz, soja e trigo, quantia que segundo o PMA é suficiente para alimentar 282 milhões de pessoas por ano.

Veículo aplica fertilizantes em plantação: guerra comprometeu exportações russas (Foto: Pixabay)

Stefan Meyer, economista do PMA, ressalta que muitos agricultores estão usando menos fertilizantes, sobretudo nos países em desenvolvimento. O problema dos pequenos agricultores em comprar fertilizantes pode resultar em menor produção nesta e nas próximas temporadas.

Para o especialista, ou os agricultores deixam suas terras ociosas agora ou optam pela produção de outras culturas. Ambas as opções acabarão afetando o suprimento de alimentos nesses países.

À medida que os preços dos alimentos sobem, é provável que os agricultores queiram expandir a produção, mas é também provável que tenham dificuldade em adquirir quantidades adequadas de fertilizantes para aumentar o rendimento.

As implicações para a África

Tendências internacionais apontam que os preços dos fertilizantes subiram mais do que o dobro no Quênia, em Uganda e na Tanzânia.

Enquanto produtores e comerciantes de fertilizantes no mundo favorecem o envio de suprimentos limitados para os maiores mercados, países africanos, já com um baixo uso de fertilizantes, poderão ser os mais penalizados pela escassez.

Muitas fábricas no continente se concentram na mistura de componentes importados para fornecer compostos necessários. Em consequência, entregas canceladas ou atrasadas de um componente poderiam interromper toda uma operação e privar agricultores de insumos por semanas ou meses.

Sem exportações desimpedidas de fertilizantes, as colheitas não podem ser maximizadas. O impacto na produção de alimentos, particularmente nos países mais dependentes de importações, será significativo, a menos que as restrições sejam removidas.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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