Cultivo de tabaco reforça nível recorde de insegurança alimentar, diz OMS

Plantio ocupa terras férteis e impulsiona degradação do solo, com Brasil e Moçambique entre os dez maiores produtores mundiais

Conteúdo adaptado de material publicado originalmente pela ONU News

Mais de 3,2 milhões de hectares de terra em 124 países estão sendo usados ​​para cultivar tabaco, mesmo em países onde as pessoas passam fome. O alerta é da Organização Mundial da Saúde (OMS), em alusão ao Dia Mundial Sem Tabaco, em 31 de maio. O relatório “Cultive Alimentos, Não Tabaco” foi divulgado na sexta-feira (26), em Genebra.

A agência da ONU pediu aos governos que invistam mais no cultivo de alimentos e menos na produção de fumo, um produto nocivo à saúde. Atualmente, um número recorde de 349 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam insegurança alimentar aguda.

Dos países de língua portuguesa na lista, Brasil e Moçambique se encontram entre os dez maiores produtores de tabaco do mundo. Nas Américas, o Brasil lidera em quantidade de área de plantio, com 357.230 hectares.

Mulher carrega seu bebê enquanto trabalho em plantação de tabaco no Malaui (Foto: Flickr)

O valor é superior à soma de todos os outros nove maiores produtores da região, uma lista que inclui Estados Unidos, Argentina e Cuba.

Já Moçambique é o terceiro maior produtor da África, com 91.469 hectares. Os dados da OMS indicam que, de 2005 a 2020, a área de cultivo do tabaco aumentou em 19,8% no continente africano.

De acordo com o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, “o tabaco é responsável por oito milhões de mortes por ano, mas os governos gastam milhões” apoiando as plantações do produto.

“Cultive Alimentos, Não Tabaco”

Para ele, escolher cultivar alimentos em vez de tabaco é essencial para preservar os ecossistemas e “fortalecer a segurança alimentar para todos.”

O cultivo ainda agrava os desafios de segurança alimentar por ocupar terras férteis. A expansão da lavoura impulsiona o desmatamento, a contaminação dos mananciais e a degradação do solo.

O relatório da OMS destaca os males da plantação de fumo e os benefícios da transição para culturas alimentares mais sustentáveis.

O estudo mostra ​​como agricultores, comunidades, economias e o meio ambiente podem ser beneficiados.

Lobby, contaminação e trabalho infantil

O relatório também expõe a indústria do tabaco por manter os agricultores em um ciclo vicioso de dívidas, propagar o cultivo do tabaco exagerando seus benefícios econômicos e pela prática de lobby.  

Estima-se que mais de um milhão de crianças trabalhem em fazendas de tabaco.

Os agricultores são expostos a uma série de doenças riscos, incluindo a doença da folha verde do tabaco, uma forma de envenenamento causado pela nicotina absorvida pela pele. Além disso, esses trabalhadores sofrem da exposição ao uso pesado de pesticidas e à poeira do tabaco.

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