Em 2019, US$ 7 trilhões estavam escondidos em paraísos fiscais. É pouco menos que 10% do PIB (Produto Interno Bruto) global, apontou pesquisa do Facti (Painel de Accountability, Transparência e Integridade Financeira), divulgada no último dia 24.
Um dos principais crimes financeiros, a lavagem de dinheiro, foi usada para limpar cerca de US$ 2,3 trilhões em recursos no ano passado. É cerca de 2,7% do PIB mundial, de US$ 87 bilhões.
“Recursos para parar a transmissão [do novo coronavírus], manter as pessoas vivas e colocar comida na mesa estão sendo perdidos para corrupção e abusos”, afirmou o copresidente do Painel e ex-premiê do Níger, Ibrahim Mayaki, no lançamento do material.

No painel, estabelecido pela Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), participam o paquistanês Munir Akram, presidente do Conselho Econômico e Social da entidade, além de ex-chefes de Estado, de Governo e de Bancos Centrais, acadêmicos e lideranças da sociedade civil.
Detecção eficiente
O estudo também estimou que a evasão fiscal causa perdas de entre US$ 500 bilhões e US$ 600 bilhões em impostos de empresas todo ano.
As consequências são diminuição das rendas nacionais e do investimento público e privado. Além dos impactos financeiros, testemunha-se a deterioração dos sistemas de governança locais.
Segundo o relatório, a acelerada digitalização da economia, que tornou-se mais evidente desde o início da pandemia, é uma alternativa para aprimorar mecanismos de identificação de crimes financeiros.
Quanto maior a abertura de um sistema financeiro com o resto do mundo, maior o acesso à tecnologia. Com auxílio de novas ferramentas, os reguladores locais têm maior possibilidade de identificar os crimes.
Também será preciso modernizar os sistemas tributários, para que passem a contemplar a economia digital e diminuir o uso de paraísos fiscais.
Até agora, são poucos os países que já fizeram os ajustes necessários para cobrar impostos dessa parcela cada vez maior da atividade produtiva.
The Panel welcomes the commitment from @PakistanPR_UN to bring forward our recommendations into the intergovernmental process. Our interim report, published today, analyzes the gaps, vulnerabilities and impediments in the current system. https://t.co/eRly8j5dNc https://t.co/tSoQSOcpaw
— FACTI Panel (@FACTIpanel) September 24, 2020
Profissionalizar e investir nas Receitas locais é fundamental. As informações coletadas podem ser compartilhadas com outros países, permitindo a colaboração dos investigadores e o aumento da eficiência dessas instituições. Essas informações devem ser, se possível, públicas.
Sistemas e autoridades
Os arcabouços tributários, as regulações e os métodos de captura e fiscalização devem ser flexíveis. O objetivo é garantir que a resposta aos crimes financeiros seja eficaz e em constante aprimoramento.
Também será preciso a padronização de normas tributárias internacionais, para que se tornem “mais coerentes, nuançadas” e estimulem a
“cooperação tributária internacional”. Isso significa que os países terão de oferecer transparência de dados e clareza nas informações.
Neste sentido, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) pode auxiliar países de baixa renda para que se mantenham integrados aos sistemas internacionais. O G20 também criou procedimentos padronizados, que podem servir de exemplo a outras nações.
Mas nada adianta sem mecanismos de combate à corrupção nas leis locais. A ONU criou, em 2005, sua Convenção que oferece algumas sugestões e práticas adequadas a países que tenham essa meta como política pública.
Eliminação de incentivos
É comum que mesmo países desenvolvidos façam vista grossa a crimes financeiros. “Para os bancos, é lucrativo, e facilitadores como advogados e contadores em geral operam sem supervisão efetiva”, afirma o documento.
A solução seria trazer a público quem comete esse tipo de crime, diminuindo os incentivos para toda a cadeia de beneficiados pelas práticas. A cooperação entre os países também será vital para garantir que essas pessoas serão punidas, e os lesados, compensados.
O problema é que ainda há falhas graves na coordenação de mecanismos internacionais, sobretudo na implementação e fiscalização dos crimes.
O maior problema acontece nos países pequenos, com recursos modestos para identificar do que ocorre em seu sistema bancário. Muitos deles são paraísos fiscais, a exemplo das pequenas nações insulares caribenhas.
O maior peso recai sobre países em desenvolvimento, sobretudo aqueles com pouco contato com o sistema internacional.
Cada nação terá desafios particulares, com necessidades distintas ao montar um arcabouço nacional. Um recurso simples é investir mecanismos de colaboração regional, permitindo apoio entre economias de porte e estruturas produtivas semelhantes.