Rússia e China barram planos de proteção contra a pesca excessiva na Antártida

Medidas apoiadas pela União Europeia e outra 24 nações visavam à proteção de três vastas extensões de oceano

China e Rússia barraram os planos da União Europeia (UE), dos EUA e de outros 23 países, incluindo o Brasil, de proteger os mares ao redor da Antártida da pesca excessiva. O futuro das gélidas águas cristalinas da região mais ao sul do planeta foi discutido durante um grande encontro internacional sobre a conservação do continente, encerrado na sexta-feira (4) em Hobart, na Austrália. As informações são da agência Associated Press.

Embora Beijing e Moscou não tenham atendido aos pedidos das delegações presentes para que “fiquem do lado da conservação” e parem de bloquear quase 4 milhões de quilômetros quadrados em novas áreas marinhas protegidas ao redor da Antártida, os conservacionistas destacaram aspectos positivos do evento, que se estendeu por duas semanas.

Um dos pontos cruciais é o de que o mar na Antártida possui grandes populações de krill, cuja pesca é regulamentada pela Comissão para a Conservação dos Recursos Vivos Marinhos da Antártida (CCAMLR, da sigla em inglês), que organizou o encontro. O pequeno crustáceo, semelhante ao camarão, está na base da cadeia alimentar da vida selvagem local, da qual dependem pinguins e baleias.

Barco pesqueiro russo na Antártida (Foto: Antarctic and Southern Ocean Coalition/Flickr)

Diante disso, foi firmado um acordo que estabelece novas proteções para a pesca do krill, além do compromisso de uma reunião no Chile em 2023 que irá discutir de forma mais ampla uma proposta para as novas áreas marinhas protegidas que, combinadas, devem cobrir uma faixa de oceano maior que a Índia.

Muitas nações ficaram frustradas com a capacidade da Rússia – e, em menor grau, da China – de vetar propostas. Washington, que vem tentando encontrar um terreno comum com Beijing, culpa diretamente Moscou pelos desentendimentos deste ano, bem como sustenta que os russos estão “prejudicando o grupo”.

“A repetida rejeição da Rússia às melhores informações científicas disponíveis equivale a um abuso de seu compromisso de participar da tomada de decisões baseada em consenso”, disse o Departamento de Estado dos EUA em comunicado.

Para serem aprovadas, as decisões da CCAMLR devem obter o apoio unânime de todos os Estados-Membros. Nos últimos anos, a China e a Rússia vetaram o estabelecimento de novas áreas protegidas, supostamente porque os dois países desejam pescar mais krill.

Os cientistas envolvidos com a CCAMLR não esperam que a China e a Rússia comecem a apoiar a proteção marinha, segundo o site independente The Ferret. Os dois países são “preconceituosos contra as áreas protegidas”, diz Marino Vacchi, pesquisador sênior do Conselho Nacional de Pesquisa da Itália e membro do comitê científico da Comissão.

Em nota, o Pew Bertarelli Ocean Legacy Project saudou o consenso para proteger o krill, mas lembrou que este é o sexto ano consecutivo em que a comissão não designa novas zonas de proteção marítima na Antártida.

“Embora a medida de conservação do krill seja um bom primeiro passo, novas evidências ressaltam que a melhor abordagem de precaução para a conservação do Oceano Antártico combina a gestão da pesca baseada em ecossistemas e as áreas marinhas protegidas”, disse Andrea Kavanagh, diretora do projeto Antártica e Oceano Antártico.

Guerra impactou nas discussões

A busca por consenso sempre foi difícil para a Comissão, tendo piorado sensivelmente após o início da guerra na Ucrânia – que também faz parte do grupo. Inclusive, foi registrado um mal-estar na reunião durante a fala dos delegados russos, que resultou em uma paralisação em massa.

Líder da delegação ucraniana, Kostiantyn Demianenko chegou a declarar que a Rússia não tinha o direito de estar à mesa.

“Um Estado que mata a população civil, destrói a infraestrutura civil aérea e terrestre de outro país e viola de forma desafiadora as disposições básicas do direito internacional deve definitivamente ser limitado em seu direito de participar das atividades de organizações internacionais como a CCAMLR”, disse ele.

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