Al-Qaeda amplia presença no Afeganistão com aval do Taleban, de acordo com a ONU

Relatório indica que o grupo construiu novos campos de treinamento no país e segue operando a partir de lá sob o 'patrocínio' dos talibãs

Desde que o Taleban retornou ao poder no Afeganistão, em agosto de 2021, têm-se a cumulado as denúncias de que o grupo oferece abrigo à Al-Qaeda. Tal alegação parte inclusive da ONU (Organização das Nações Unidas), que nesta semana deu maiores detalhes sobre a aliança e disse que os extremistas inclusive estabeleceram novas instalações de treinamento no território afegão.

“Os Estados regionais avaliam que a presença de figuras importantes da Al-Qaeda no país não mudou e que o grupo continua a representar uma ameaça na região e, potencialmente, fora dela”, diz recente relatório do Conselho de Segurança.

Por um lado, o documento destaca a intensa atividade dentro do país do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), inimigo do Taleban e maior ameaça à segurança interna afegã. Por outro, afirma que a relação entre os radicais que governam o país e a Al-Qaeda “permanece estreita” e que a facção conta com “o patrocínio dos talibãs”, apesar de alguns desentendimentos.

Integrantes do Taleban no Afeganistão: aliança com a Al-Qaeda (Foto: Wikimedia Commons)

Embora alguns comandantes talibãs compartilhem ideologia e métodos com a Al-Qaeda, o grupo radical que governo o Afeganistão se esforça para “reduzir a visibilidade desse relacionamento.” Agiu inclusive para conter os terroristas em determinadas circunstâncias, o que gerou atrito entre as duas entidades.

Ainda assim, os terroristas teriam sido capazes de estabelecer oito novos campos de treinamento no Afeganistão, alguns deles temporários. Operam também cinco madraças, que são escolas de estudos islâmicos, bem como esconderijos usados para facilitar o trânsito entre os territórios afegão e iraniano.

Por sinal, acredita-se que o principal líder da organização terrorista, Sayf al-Adel, esteja escondido no Irã, embora um Estado-Membro não revelado negue tal alegação. Membros da Al-Qaeda no Afeganistão que frequentemente atravessam a fronteira rumo ao território iraniano são os responsáveis por manter o líder em contato com o que ocorre no exterior.

Relatório divulgado pelo Conselho de Segurança em fevereiro de 2023 revelou que al-Adel havia assumido a liderança da Al-Qaeda em substituição a Ayman al-Zawahiri, morto em um ataque aéreo dos EUA em agosto de 2022 no Afeganistão. O documento também alegou que ele se esconde no Irã.

À época, o governo iraniano desmentiu a acusação com certa dose de ironia. “Aconselho a Casa Branca a parar o jogo fracassado da Iranofobia. Ligar a Al-Qaeda ao Irã é patentemente absurdo e infundado. Aqueles que criaram a Al-Qaeda e o Daesh (Estado islâmico) devem ser responsabilizados por espalhar o terrorismo em todo o mundo. Não dê endereço falso!”, disse o ministro das Relações Exteriores Hossein Amirabdollahian.

O mais recente relatório diz que o isolamento é atualmente um problema da Al-Qaeda. Embora muitos terroristas estejam no Afeganistão, o número de figuras importantes da organização abrigadas no país é “é inferior a uma dúzia.” E eles enfrentam sérias dificuldades para “fornecer uma orientação estratégica à organização mais ampla.”

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