Em um movimento que sugere uma tentativa de mitigar as críticas internacionais e domésticas, a Arábia Saudita liberou recentemente dezenas de prisioneiros políticos. Entre os libertados, destaca-se Salma al-Shehab, uma estudante de doutorado no Reino Unido sentenciada em 2022 a 34 anos de prisão por compartilhar postagens de mídia social sobre direitos das mulheres e espalhar informações consideradas falsas pelos tribunais sauditas. As informações são do jornal The Financial Times.
A liberação também incluiu Asaad al-Ghamdi, um professor condenado a 20 anos de prisão por suas publicações nas redes sociais, refletindo uma ampla repressão tanto a críticos liberais quanto conservadores. O contexto dessas libertações é complexo e não totalmente transparente, mas especula-se que mais de cem indivíduos tenham sido libertados, muitos dos quais não são publicamente conhecidos, pois suas famílias preferem evitar a exposição pública.

O príncipe Mohammed bin Salman, líder de fato do reino, tem trabalhado para reforçar a imagem progressista da Arábia Saudita no palco mundial, simultaneamente promovendo uma agenda de modernização interna que inclui reformas econômicas e de liberalização social.
Especialistas apontam que, embora campanhas globais possam ter influenciado as libertações, outras motivações políticas também estão em jogo. “Condenar pessoas a décadas por tuítes é ruim para os negócios”, observou Joey Shea da Human Rights Watch (HRW), indicando que a repressão severa pode ser prejudicial à imagem e aos interesses econômicos sauditas.
No entanto, as condições e a arbitrariedade das libertações suscitam preocupações. Lina Alhathloul, da ONG de direitos humanos ALQST, destaca que muitos foram libertados sem um perdão oficial, permanecendo em uma situação de grande incerteza e sob o risco de nova detenção.
A medida parece ser um esforço para equilibrar a repressão interna com a necessidade de uma imagem mais leniente e reformista no exterior, especialmente enquanto a Arábia Saudita busca desempenhar um papel mais central em questões geopolíticas globais, como as recentes negociações entre os EUA e a Rússia realizadas no país árabe.