O mais recente relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) aponta que o Irã aumentou ainda mais seu estoque de urânio enriquecido de grau quase militar na comparação com o levantamento anterior, de maio. As informações que constam do documento foram divulgadas pela agência Associated Press (AP).
De acordo com o órgão da ONU (Organização das Nações Unidas), Teerã já atingiu o nível de pureza de 60% do urânio, próximo dos 90% necessários para ser usado em armamento nuclear. A entidade calcula que o país tinha até a data em que foi concluído o relatório, 17 de agosto, 164,7 quilos do material, um aumento de 22,6 quilos em relação ao s valores registrados anteriormente.
Considerando os critérios da EIA, o país estaria a alguns pequenos passos de ter uma bomba atômica. A agência diz que o trajeto entre os 60% de pureza atuais e os 90% requeridos para a construção de uma arma é curto. E bastariam 42 quilos de urânio para tanto.
Ou seja, o país teria condição, num futuro não muito distante, de construir múltiplas armas nucleares, um alerta que já havia sido feito anteriormente pelo diretor-geral da AIEA, Rafael Mariano Grossi.
O documento aumenta a preocupação ocidental com o andamento do programa nuclear uraniano, que motivou diversos sinais de alerta recentemente. Um dos mais recentes veio de Washington, que redigiu neste ano uma nova avaliação de inteligência segundo a qual o Irã de está em uma posição favorável para iniciar seu programa de armas nucleares.
O documento, responsabilidade do Gabinete da Diretora de Inteligência Nacional (ODNI, na sigla em inglês), omite uma frase-chave vinha sendo usada nas avaliações anteriores desde 2019: “O Irã não está atualmente realizando as principais atividades de desenvolvimento de armas nucleares necessárias para produzir um dispositivo nuclear testável.”
Em artigo para o think tank Fundação para a Defesa das Democracias (FDD), a pesquisadora Andrea Stricker explicou o relatório. “Em outras palavras: a comunidade de inteligência dos EUA não pode mais afirmar que Teerã não está trabalhando em armas nucleares”, diz ela no texto. E cita um trecho que se destaca no documento do ODNI: ‘O Irã empreendeu atividades que o posicionam melhor para produzir um dispositivo nuclear, se assim o desejar”.
No início do ano, a AIEA já havia levantado preocupações sobre o aumento na produção de urânio altamente enriquecido pelo Irã. Segundo a agência, entre o final de outubro de 2023 e o início de fevereiro de 2024, Teerã produziu 25 quilogramas de urânio com pureza quase de grau militar, de 60%. Esse número representa um aumento significativo em relação aos menos de sete quilogramas produzidos no trimestre anterior.
Em maio deste ano, um legislador iraniano chegou a sugerir que seu país inclusive já tenha uma arma de destruição em massa em seu arsenal, mas mantenha a questão em segredo. “Na minha opinião, conseguimos armas nucleares, mas não o anunciamos”, disse Ahmad Bakhshayesh Ardestani à rede iraniana Rouydad 24.
Em março do ano passado, general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas norte-americanas, também manifestou preocupação com a questão, dizendo que o Irã “poderia produzir material de fissão para uma arma nuclear em menos de duas semanas e levaria apenas mais alguns meses para produzir uma arma nuclear real.”