Detido arbitrariamente, jornalista afegão teria sido agredido por membros do Taleban

Mohib Jalili passou três horas sob custódia sem qualquer explicação. Liberado, foi ameaçado caso revelasse a prisão

O jornalista afegão Mohib Jalili, da emissora independente 1TV, passou três horas detido pelo Taleban no sábado (16), período no qual teria sido agredido e ameaçado por membros do grupo radical que assumiu o poder no Afeganistão em agosto de 2021.

“O Taleban deve investigar imediatamente a detenção e os supostos abusos sob custódia do jornalista afegão Mohib Jalili e responsabilizar os responsáveis”, disse Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), que revelou o caso na segunda-feira (18).

Jalili foi detido quando voltava para casa. Sete integrantes armados do Diretório Geral de Inteligência (GDI, na sigla em inglês), o principal órgão de inteligência do Afeganistão, forçaram o jornalista a descer de seu automóvel, o algemaram e o jogaram em um veículo do governo

Mohib Jalili, jornalista da emissora independente 1TV (Foto: reprodução/cpj.org)

Durante o período em que o jornalista ficou detido, os agentes do GDI o teriam esbofeteado e usado uma arma para agredi-lo com pancadas no braço esquerdo, que ficou com um hematoma. Os agressores ainda o chamaram de “jornalista diabólico que arruína a reputação do Taleban” e o acusaram de atuar como espião para nações estrangeiras

Jalili foi libertado após três horas sem sofrer qualquer acusação formal. Um membro da inteligência afegã ainda ameaçou o jornalista caso ele revelasse o ocorrido.

“O Taleban deve parar com as detenções arbitrárias, abusos e espancamentos de jornalistas afegãos como Mohib Jalili e responsabilizar os agentes de inteligência do grupo por tais ações”, disse Steven Butler, coordenador do CPJ na Ásia. “Os repetidos ataques à mídia estão apenas privando o povo do Afeganistão do acesso a informações essenciais, que é um direito básico”.

A denúncia foi reforçada pelo também jornalista Sharif_Hassanyar, que usou sua conta no Twitter para citar o episódio, inclusive exibindo uma foto do colega machucado. “Ontem à noite, o serviço de inteligência talibã prendeu meu colega de previews, Mohib Jalili, o espancou e o torturou. Jornalistas do Afeganistão pagando o preço da liberdade de expressão”.

Por que isso importa?

Números mostram que o jornalismo afegão tem sido sufocado pelo Taleban. Em dezembro de 2021, uma pesquisa conduzida em parceria pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e a Associação de Jornalistas Independentes do Afeganistão (AIJA) apontou que 231 veículos de imprensa foram fechados e mais de 6,4 mil jornalistas perderam o emprego no Afeganistão desde o dia 15 de agosto, quando o Taleban assumiu o poder no país.

Os dados apontam que mais de quatro em cada dez veículos de comunicação desapareceram nesse período, e 60% dos jornalistas e funcionários da mídia estão impossibilitados de trabalhar. As mulheres sofreram muito mais: 84% delas perderam o emprego, contra 52% no caso dos homens. Entre as 34 províncias do país, em 15 delas não há sequer uma mulher jornalista trabalhando atualmente.

Dos 543 meios de comunicação registrados no Afeganistão antes da ascensão talibã, apenas 312 ainda operavam no final de novembro. Isso significa que 43% dos meios de comunicação afegãos desapareceram em um espaço de três meses. Das 10.790 pessoas que trabalhavam na mídia afegã (8.290 homens e 2.490 mulheres) no início de agosto, apenas 4.360 (3.950 homens e 410 mulheres) ainda estavam trabalhando quando a pesquisa foi realizada.

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