Estados Unidos apoiam plano da Síria para integrar jihadistas estrangeiros ao Exército

Nova liderança síria promete transparência ao incorporar ex-rebeldes, muitos deles uigures da China, a uma divisão militar oficial

A nova liderança da Síria recebeu sinal verde dos EUA para incorporar milhares de ex-combatentes jihadistas estrangeiros ao Exército nacional. O aval foi confirmado por Thomas Barrack, nomeado no mês passado como enviado especial do presidente Donald Trump na Síria. “Eu diria que há um entendimento, com transparência”, afirmou ele em Damasco, segundo informações da agência Reuters.

O plano prevê a criação da 84ª divisão do Exército sírio, que incluirá cerca de 3,5 mil estrangeiros, em sua maioria uigures vindos da China e de países vizinhos da Ásia Central, além de soldados sírios. Segundo autoridades de defesa sírias, o objetivo é evitar que esses combatentes, considerados leais e experientes, sejam marginalizados e atraídos por grupos extremistas como o Estado Islâmico (EI) ou facções remanescentes da Al-Qaeda.

A mudança na postura dos Estados Unidos ocorre após uma guinada diplomática de Trump no Oriente Médio. Durante visita à região no mês passado, ele suspendeu sanções impostas ao regime de Bashar al-Assad, encontrou-se com o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, em Riad, e nomeou Barrack, seu aliado, como emissário para o país. Até o início de maio, Washington exigia a exclusão de combatentes estrangeiros das forças de segurança sírias.

Forças Armadas norte-americanas em ação na Síria, novembro de 2019 (Foto: nara.getarchive.net/Creative Commons)

A presença desses ex-jihadistas tem sido um dos principais obstáculos à reaproximação da Síria com países ocidentais desde que a coalizão rebelde Hayat Tahrir al-Sham (HTS), dissidente da Al-Qaeda, derrubou Assad e assumiu o poder no ano passado. Muitos dos estrangeiros integraram as fileiras da HTS, notoriamente em unidades suicidas de elite. Segundo duas fontes ligadas ao Ministério da Defesa sírio, a equipe de Sharaa tem defendido a integração como forma de estabilização.

A medida provocou preocupações em Beijing. Muitos dos uigures que lutaram na guerra síria pertenciam ao Partido Islâmico do Turquestão (TIP), considerado terrorista pela China. “A China espera que a Síria se oponha a todas as formas de terrorismo e forças extremistas em resposta às preocupações da comunidade internacional”, declarou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês.

Em resposta, Osman Bughra, dirigente político do TIP, afirmou à Reuters que o grupo foi oficialmente dissolvido. “Atualmente, o grupo opera inteiramente sob a autoridade do Ministério da Defesa, adere à política nacional e não mantém vínculos com entidades ou grupos externos”, disse. Sharaa já indicou que os combatentes e suas famílias podem receber cidadania síria como reconhecimento pelo papel na guerra contra Assad.

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