Implantação maciça de câmeras no Afeganistão pode gerar Estado de vigilância total, diz ONG

Talibãs divulgaram planos de instalar mais de 62 mil câmeras de segurança em Cabul, medida que preocupa Anistia internacional

Com o objetivo de reforçar a segurança, o Ministério do Interior do governo talibã anunciou a implantação de mais de 62 mil câmeras de segurança em todo o país, conforme relatado pela agência afegã Khaama Press.

Em resposta à decisão do Taleban, Matt Mahmoudi, pesquisador e consultor da ONG Anistia Internacional (AI) para a área de Inteligência Artificial e Direitos Humanos, comentou nesta sexta-feira (1º) o caráter repressivo da medida.

“A implementação de uma estrutura de vigilância em massa tão extensa sob o pretexto de ‘segurança nacional’ estabelece um modelo para os talibãs continuarem com suas políticas draconianas que violam os direitos fundamentais das pessoas no Afeganistão, especialmente das mulheres em espaços públicos.

Cena de rua em Cabul, capital do Afeganistão (Foto: ICMA Photos/Flickr)

Segundo ele, se essa infraestrutura de vigilância for instalada, ela também minaria os direitos à privacidade, à liberdade de reunião e à liberdade de expressão, “que têm sido alvo de ataques sem precedentes desde que os talibãs assumiram o poder, resultando na erosão do Estado de direito”.

Em situações semelhantes, a Anistia Internacional já documentou como as autoridades israelenses utilizam a tecnologia de reconhecimento facial para apoiar a contínua dominação e opressão dos palestinos nos Territórios Palestinianos Ocupados (TPO).

A organização também registrou o uso de milhares de câmeras de vigilância com capacidade de reconhecimento facial em toda a cidade de Nova York, muitas das quais foram aplicadas em comunidades racialmente discriminadas, ampliando a vigilância policial discriminatória.

Taleban rejeita preocupações

Os talibãs rejeitaram as preocupações levantadas pela Anistia Internacional na sexta-feira, referentes à instalação de câmeras em Cabul e outras áreas, alegando que essas câmeras foram instaladas para garantir a segurança, repercutiu a agência Anadolu.

Em uma declaração, o Ministério das Relações Exteriores do Afeganistão classificou as preocupações da organização de direitos humanos como “infundadas” e negou alegações de violações dos direitos humanos, invasão da privacidade e imposição de restrições.

Mufti Abdul Mateen Qani, porta-voz do ministério, questionou por que os defensores dos direitos humanos e da privacidade não expressaram preocupações quando os Estados Unidos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) realizaram operações de vigilância, incluindo o uso de balões em todo o país, incluindo Cabul, para obter informações de inteligência.

Ele acrescentou que a instalação de câmeras de segurança é uma “medida necessária para a segurança não apenas no Afeganistão, mas em todas as cidades e capitais do mundo”, e que o Emirado Islâmico está “comprometido com a segurança, a proteção dos direitos das pessoas e a observância dos princípios da Sharia“, a lei islâmica.

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