Taleban proíbe partidos políticos no Afeganistão, citando incompatibilidade com a lei islâmica

A determinação ocorreu um dia após a organização jihadista comemorar o segundo aniversário de sua retomada ao poder central em Cabul

Na quarta-feira (16), o Taleban proibiu todos os partidos políticos no Afeganistão, justificando a medida como uma aplicação da lei islâmica, a Sharia. A decisão ocorreu um dia após o segundo aniversário de ascensão dos fundamentalista ao poder em Cabul. As informações são da rede Voice of America (VOA).

A medida foi anunciada por Abdul Hakim Sharaee, ministro da Justiça talibã, que comunicou a proibição durante uma coletiva de imprensa em Cabul. Ele afirmou que não há base na Sharia que respalde a operação de partidos políticos no país, argumentando que tais entidades “não servem aos interesses nacionais” e não são apreciadas pela nação. No entanto, detalhes adicionais não foram fornecidos pelo chefe da pasta.

Até dois anos atrás, mais de 70 partidos políticos, tanto grandes quanto pequenos, estavam registrados oficialmente no Ministério da Justiça. Esse registro ocorreu antes do Taleban, então um grupo insurgente, retomar o controle do país devastado pela guerra. Entretanto, com a tomada do controle a retirada das forças americanas em agosto de 2021, o sistema político afegão entrou em colapso.

Combatentes do Taleban em Cabul, 17 de agosto de 2021 (Foto: WikiCommons)

Desde a sua volta ao poder, o governo linha-dura do grupo islâmico ultraconservador tem sido frequentemente acusado de restringir as liberdades de associação, reunião e expressão como uma forma de silenciar os críticos. Essas restrições resultaram na permissão apenas para que seus apoiadores conduzam tais atividades.

Torek Farhadi, um analista político afegão, destacou que o Taleban está adotando o modelo de países do Golfo que não possuem partidos políticos.

Segundo ele, o crucial é garantir a participação de mulheres e indivíduos de diversos setores na “discussão sobre o futuro do país”.

Ele mencionou que, embora possa parecer contraintuitivo, os partidos políticos poderiam gerar divisões indesejadas no Afeganistão atual, algo que o país definitivamente não necessita.

O Taleban se contrapôs às tentativas internacionais de estabelecer um governo mais inclusivo, argumentando que seu “governo interino” é abrangente e inclui representantes de diversas etnias e tribos.

Crise humanitária

Após assumirem o controle do Afeganistão em 15 de agosto de 2021, as autoridades do Taleban têm agravado sobretudo suas restrições aos direitos das mulheres, meninas e à mídia.

Nos últimos dois anos, essas autoridades negaram educação, trabalho, mobilidade e reunião às afegãs. A organização extremista impôs uma forte censura midiática e restringiu o acesso à informação, enquanto aumentou a detenção de jornalistas e críticos.

O país enfrenta uma grave crise humanitária, com mais de 28 milhões de pessoas, ou dois terços da população, necessitando urgentemente de ajuda. A ONU (Organização das Nações Unidas) relatou que quatro milhões de pessoas sofrem com desnutrição aguda, incluindo 3,2 milhões de crianças menores de 5 anos.

Tags: