O aiatolá ali Khamenei, líder supremo do Irã, afirmou nos últimos dias que seu país está disposto a eventualmente retomar as negociações nucleares com o Ocidente, no momento em que aumentam os indícios de que Teerã se aproxima de ter armas nucleares. Apesar da urgência do tema, os EUA não mostraram muita empolgação, conforme relato da rede ABC News.
“Julgaremos a liderança do Irã por suas ações, não por suas palavras”, disse um porta-voz do Departamento de Estado na terça-feira (27). “Se o Irã quiser demonstrar seriedade ou uma nova abordagem, eles devem interromper as escaladas nucleares e começar a cooperar significativamente com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).”
O banho de água fria norte-americano surge após Khamenei autorizar o novo presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, a retomar as negociações. “Isso não significa que não podemos interagir com o mesmo inimigo em certas situações”, disse o líder supremo, antes de manifestar pessimismo semelhante. “Não há mal nisso, mas não coloque suas esperanças neles.”
Embora Washington enxergue um acordo como a solução mais interessante para o problema, entende que tal hipótese não está no horizonte. “Estamos muito longe de algo assim agora”, disse a diplomacia norte-americana. Uma das razões para isso é a eleição presidente dos EUA em novembro, com o governo Biden enxergando uma negociação como prejudicial à candidatura da governista Kamala Harris.
Irã, uma nação nuclear?
O momento para negociações, entretanto, não poderia ser mais apropriado. Washington redigiu neste ano uma nova avaliação de inteligência segundo a qual o Irã está conduzindo pesquisas que o deixam em uma posição mais favorável para iniciar um programa de armas nucleares. A revelação foi feita pelo The Wall Street Journal (WSJ) no início de agosto.
O documento, responsabilidade do Gabinete da Diretora de Inteligência Nacional (ODNI, na sigla em inglês), omite uma frase-chave vinha sendo usada nas avaliações anteriores desde 2019: “O Irã não está atualmente realizando as principais atividades de desenvolvimento de armas nucleares necessárias para produzir um dispositivo nuclear testável.”
Em artigo para o think tank Fundação para a Defesa das Democracias (FDD), a pesquisadora Andrea Stricker explicou o relatório. “Em outras palavras: a comunidade de inteligência dos EUA não pode mais afirmar que Teerã não está trabalhando em armas nucleares”, diz ela no texto. E cita um trecho que se destaca no documento do ODNI: ‘O Irã empreendeu atividades que o posicionam melhor para produzir um dispositivo nuclear, se assim o desejar”.
No início do ano, a AIEA já havia levantado preocupações sobre o aumento na produção de urânio altamente enriquecido pelo Irã. Segundo a agência, entre o final de outubro de 2023 e o início de fevereiro de 2024, Teerã produziu 25 quilogramas de urânio com pureza quase de grau militar, de 60%. Esse número representa um aumento significativo em relação aos menos de sete quilogramas produzidos no trimestre anterior.
Em maio deste ano, um legislador iraniano chegou a sugerir que seu país inclusive já tenha uma arma de destruição em massa em seu arsenal, mas mantenha a questão em segredo. “Na minha opinião, conseguimos armas nucleares, mas não o anunciamos”, disse Ahmad Bakhshayesh Ardestani à rede iraniana Rouydad 24.
Em março do ano passado, general Mark Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas norte-americanas, também manifestou preocupação com a questão, dizendo que o Irã “poderia produzir material de fissão para uma arma nuclear em menos de duas semanas e levaria apenas mais alguns meses para produzir uma arma nuclear real.”