Irã confirma a morte do presidente Ebrahim Raisi em queda de helicóptero

Chefe de governo morreu junto do Ministro das Relações Exteriores e outras autoridades estatais. País terá eleições em até 50 dias

O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, teve a morte confirmada por Teerã nesta segunda-feira (20) pela manhã (no horário de Brasília). Ele estava em um helicóptero que caiu no domingo (19) em uma área montanhosa no noroeste do país. O ministro das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, e outras autoridades estatais também estavam na aeronave e não sobreviveram.

O presidente estava no poder desde 2021, após ter sido derrotado no pleito anterior, em 2017. Segundo a rede BBC, o vice-presidente Mohammad Mokhber assumirá o cargo, mas não permanecerá muito tempo no comando do país. Ele terá a missão de preparar uma nova eleição a ser realizada em até 50 dias, conforme determina a Constituição.

Ebrahim Raisi, presidente do Irã, durante campanha em 2017 (Foto: Tasnim News Agency/WikiCommons)

Raisi teve um governo curto, porém marcante e antagonizando fortemente com o Ocidente. Em uma das primeiras manifestações públicas direcionadas ao exterior após assumir o poder, descartou a retomada do acordo nuclear se Washington não oferecesse vantajosas contrapartidas a Teerã. A principal delas, a derrubada de todas as sanções impostas pelo ex-presidente Donald Trump, quem optou por encerrar o pacto que visava a controlar o programa nuclear do Irã.

Sem a retomada do acordo, Raisi não apenas sustentou, como vinha sendo acusado de intensificar os trabalhos para obtenção de sua primeira bomba atômica. Em diversas ocasiões, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) afirmou que o país vinha enriquecendo urânio em ritmo acelerado e que, se quisesse, poderia construir mais de uma arma de destruição em massa.

Na semana passada, o parlamentar iraniano Ahmad Bakhshayesh Ardestani disse que o país já havia atingido o objetivo secretamente. “Na minha opinião, conseguimos armas nucleares, mas não o anunciamos”, disse ele.

União Europeia (UE) chegou a intermediar negociações entre Washington e Teerã para restabelecer o acordo. As conversas, porém, foram abandonadas em meio aos protestos populares que tomaram as ruas iranianas desde setembro de 2022, após a morte da jovem Mahsa Amini sob custódia da “polícia da moralidade”.

Foi a partir da morte da jovem que o governo de Raisi enfrentou forte turbulência interna. A população foi às ruas se manifestar contra a truculência das autoridades e passou a pedir o fim da obrigatoriedade do uso pelas mulheres do hijab, o véu islâmico. Os protestos ganharam amplitude e se tornaram um levante contra a República Islâmica. Gritos de “morte ao ditador” passaram a ser ouvidos, o que levou as forças de segurança iranianas a adotarem mais violência na contenção do movimento.

Em outubro do ano passado, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório classificando o regime iraniano como “corrupto e autocrático” e denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares, com centenas de mortes reportadas.

Raisi, entretanto, não perdeu força. Após 7 de outubro, quando o ataque do Hamas a Israel desencadeou uma guerra na Faixa de Gaza que fortaleceu o antagonismo entre Teerã e o Ocidente, o regime iraniano aumentou o apoio militar a grupos aliados, como os Houthis, do Iêmen, que têm atacado navios no Mar Vermelho.

O presidente ainda ordenou um ataque de mísseis a Israel que foi devidamente contido pelas defesas do Estado judeu, mas ainda assim gerou o temor global de um conflito de larga escala entre os rivais.

Raisi era homem de confiança do aiatolá Ali Khamenei, apontado inclusive como candidato a sucedê-lo, de acordo com a agência Associated Press (AP). A proximidade entre eles era tanta que justificou um controle firme da eleição de 2021 pela autoridade religiosa, incomodada com a derrota de 2017 para o relativamente moderado Hassan Rouhani.

A morte do presidente apresenta um novo desafio à República Islâmica, que precisa encontrar um sucessor com força política suficiente para enfrentar os desafios tanto internos, representados pela insatisfação crescente de parte da população com a repressão estatal, quanto externos, conforme cresce a hostilidade entre Irã e Israel.

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