Israel ainda teme irritar a Rússia, mas já admite fornecer ajuda militar à Ucrânia

Embora não pretenda fornecer armamento pesado a Kiev, governo israelense cogita enviar itens de uso pessoal, como capacetes

A posição de Israel quanto à guerra, que no início era de pretensa neutralidade, pende cada vez mais para o lado da Ucrânia. Primeiro, os supostos crimes de guerra cometidos por tropas russas levaram membros do governo a manifestar repúdio. Mais recentemente, as declarações do ministro das relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, sobre o nazismo, mudaram de vez o cenário. Agora, a cúpula política e militar israelense admite inclusive a possibilidade de fornecer equipamento militar aos ucranianos, de acordo com o jornal local Haaretz.

A questão já começou a ser debatida entre funcionários do governo, que cogitam a possibilidade de fornecer ajuda civil e militar a Kiev. Novas conversas devem ocorrer nos próximos dias, e nelas deve ser debatida a lista de itens que poderiam ser fornecidos aos ucranianos

Ainda assim, os israelenses continuam preocupados em não irritar Moscou, o que tira do debate o possível fornecimento de sistemas de defesa antiaérea e de ataque, bem como armamento pesado. Porém, Israel admite fornecer equipamento militar para uso pessoal e sistemas de alerta que sirvam à população civil.

Vladimir Putin, presidente da Rússia, e Naftali Bennett, premiê de Israel (Foto: Wikimedia Commons)

Até agora, Israel tem contribuído com ajuda humanitária, na forma de assistência médica e suprimentos diversos, como sistemas de purificação de água, cobertores e roupas para o frio. No campo militar, por ora, foi aprovado pelo ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, somente o envio de capacetes para as tropas ucranianas.

Uma fonte com conhecimento da questão, que pediu para ter o anonimato preservado, disse que Israel passou a se preocupar em deixar clara sua posição, uma exigência dos EUA e da União Europeia (UE). Esse informante disse que, nas atuais condições, é indispensável adotar uma postura clara. E isso inclui o fornecimento de ajuda material a Kiev, não apenas declarações públicas feitas por políticos.

Também preocupa Israel a imagem de sua indústria militar, que exporta armamento pesado a diversos países do mundo. A manutenção da neutralidade poderia incomodar compradores, temerosos de não terem seus pedidos atendidos futuramente por razões políticas, caso venham a se envolver em conflitos como este entre Rússia e Ucrânia.

Por que isso importa?

Nos últimos meses, Israel deixou o tom isento de lado e passou a condenar abertamente a Rússia pela invasão à Ucrânia. Se o primeiro-ministro Naftali Bennett ainda tenta mantém o tom comedido, de olho principalmente nos acordos de segurança com Moscou, importantes membros de seu governo passaram a usar a expressão “crimes de guerra” e a acusar explicitamente as tropas russas

O ministro das Relações Exteriores Yair Lapid foi um que abandonou a diplomacia após o massacre da cidade de Bucha. “As imagens e os testemunhos da Ucrânia são horríveis. As forças russas cometeram crimes de guerra contra uma população civil indefesa. Condeno veementemente esses crimes de guerra”, disse ele em comunicado oficial no início de abril.

Também por conta de Bucha, o ministro da Saúde Nitzan Horowitz foi outro que apontou o dedo diretamente para Moscou. “É muito difícil ver as fotos do massacre em Bucha. Mas não se deve desviar o olhar, nem desviar a atenção dos crimes de guerra cometidos pela Rússia. Um crime contra a humanidade, contra a liberdade, os direitos humanos e todo o mundo democrático”, disse ele no Twitter.

Horowitz fez os comentários em 4 de abril diretamente da Ucrânia, onde visitou um hospital de campanha estabelecido por Israel. Além de condenar as atrocidades em Bucha, atribuídas por ele aos russos, o ministro destacou o apoio de seu país aos ucranianos.

“Continuaremos alcançando o povo ucraniano. Este é nosso dever moral diante da brutal invasão russa, diante dos massacres e crimes de guerra que ocorrem nesta terra”, disse o ministro da Saúde.

Uma atitude que deixa clara a mudança de foco de Israel foi o voto do país na ONU (Organização das Nações Unidas) para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos. A atitude irritou a Rússia, que a classificou como tentativa de distrair o mundo do conflito israelense-palestino não resolvido.

Tags: