Jornalistas são agredidos pelo Taleban em manifestação pelos direitos das mulheres

Ativistas foram autorizadas a protestar pelo direito de retornar ao trabalho e pela reabertura de escolas, mas a imprensa foi agredida durante o ato

Membros do Taleban agrediram um grupo de jornalistas que faziam a cobertura de um protesto de mulheres em Cabul, capital do Afeganistão, na quinta-feira (21). As ativistas cobram o direito de retornar ao trabalho e a reabertura de escolas, parcialmente vetadas para as meninas afegãs. As informações são da rede France 24.

Imagens da manifestação e das agressões aos jornalistas circularam no Twitter. Aurelia Bailly, jornalista e editora de fotografia da Agência France Press (AFP), reproduziu algumas das imagens feitas por um fotógrafo da empresa. “Taleban agride jornalistas em protesto pelos direitos das mulheres em Cabul”, diz ela no post.

Um fotojornalista estrangeiro foi atingido com uma coronhada de um rifle por um talibã, que ofendeu o fotógrafo enquanto desferia socos e chutas nas costas dele. Pelo menos mais dois jornalistas foram atingidos no processo de dispersão, enquanto os extremistas os perseguiam portando rifles e outras armas pesadas.

Diferente do tratamento dedicado aos jornalistas, as mulheres foram autorizadas a fazer a manifestação por cerca de uma hora e meia. Elas usavam lenços coloridos cobrindo a cabeça e seguravam cartazes com frases como “Não politize a educação”, “Não temos direito a estudar e trabalhar” e “Desemprego, pobreza e fome”.

Zahra Mohammadi, uma das organizadoras do protesto, disse entender bem o risco que corre, apesar da permissão extraordinária concedida ao grupo. “A situação é que o Taleban não respeita nada: nem jornalistas, estrangeiros ou locais, nem mulheres”, disse ela, que deixou claro o foco de sua manifestação. “As escolas devem reabrir para as meninas. Mas o Taleban tirou isso de nós”.

A questão educacional é uma das que melhor expõem a opressão talibã no Afeganistão. Enquanto meninos e meninas de até 12 anos de idade já voltaram às aulas após a tomada de poder, as adolescentes do país continuam em casa. Alunas do ensino médio estão impedidas de estudar até que o grupo extremista estabeleça o que considera um “ambiente seguro de aprendizagem para elas”.

Crianças refugiadas em escola do distrito de Behsud, província de Nandarhar, Afeganistão em abril de 2019 (Foto: Unicef/Marko Kokic)

Quando o Taleban assumiu o poder, em 15 de agosto, o vice-ministro da Informação e Cultura Zabihullah Mujahid disse que o grupo estava trabalhando em um “procedimento” para permitir que as aulas fossem retomadas no ensino médio. Até agora, nada mudou. Diante da demora, o temor é de que se repita a repressão de quando o Taleban governou o pais anteriormente, entre 1996 e 2001, com as adolescentes proibidas de estudar.

Por que isso importa?

A repressão de gênero não se limita ao campo da educação. As mulheres que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes.

Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

Há também um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar burcas pretas quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A proibição do esporte feminino também é uma realidade sob o governo talibã. Embora o grupo extremista não tenha emitido uma nota oficial sobre o veto, ele se faz presente na rotina das atletas afegãs. Depois do críquete feminino, cuja proibição foi anunciada pelo vice-líder da comissão cultural do Taleban, Ahmadullah Wasiq, a repressão atingiu outra modalidade muito popular no país: o taekwondo.

O Afeganistão tem apenas duas medalhas olímpicas em sua história. São dois bronzes conquistados pelo atleta do taekwondo Rohullah Nikpai em Beijing 2008 e Londres 2012. As conquistas de Nikpai no masculino popularizaram o esporte no país, inclusive entre as mulheres. Porém, agora que o Taleban assumiu o poder, a prática tem se restringido aos homens, e as escolas que ofereciam aulas para mulheres fecharam as portas.

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