O Irã declarou nesta sexta-feira (22) que irá ativar centrífugas de enriquecimento de urânio “novas e avançadas” como resposta a uma resolução aprovada pelo conselho da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que acusa o país de falta de transparência e cooperação em seu programa nuclear. As informações são da Al Jazeera.
A resolução, apresentada por França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, destaca preocupações com o material nuclear não declarado encontrado em locais não informados pelo Irã, conforme o relatório do diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi. Apesar de ter limitado seu enriquecimento de urânio a 60%, o país continua desafiando os termos do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
A decisão do conselho, composta por 35 membros, foi aprovada com 19 votos a favor, enquanto Rússia, China e Burkina Faso se opuseram. Doze países se abstiveram, e um não votou.
Em resposta, a Organização de Energia Atômica do Irã anunciou que o chefe nuclear do país, Mohammad Eslami, autorizou a ativação das centrífugas avançadas. “A cooperação técnica com a AIEA continuará, mas dentro dos limites acordados”, afirmou a entidade em comunicado conjunto com o Ministério das Relações Exteriores.
As centrífugas são dispositivos utilizados para enriquecer urânio, processo fundamental para a produção de combustível nuclear e, em níveis elevados, para a fabricação de armas nucleares.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, criticou a resolução, afirmando que medidas como essa “complicam as negociações nucleares”. Desde 2020, esta é a quarta resolução semelhante aprovada, sempre com forte oposição de Rússia e China.
A decisão ocorre em um momento delicado, com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Durante seu primeiro mandato, Trump retirou unilateralmente os EUA do acordo nuclear de 2015, alegando que o pacto não era suficiente para conter o programa nuclear iraniano. A retirada intensificou as tensões na região e levou o Irã a expandir seu programa de enriquecimento nuclear.
Enquanto isso, Grossi apontou pequenos avanços nas inspeções durante sua recente visita a Teerã, mas reiterou preocupações com a falta de clareza do país em relação ao uso de material nuclear.
Analistas alertam que as ações do Irã e as respostas internacionais podem reacender tensões diplomáticas e desestabilizar ainda mais o Oriente Médio. A comunidade internacional agora observa os próximos passos de Teerã e a abordagem de Washington em meio à reconfiguração das dinâmicas de poder global.
A agência de fiscalização da ONU já havia identificado dois locais próximos a Teerã, Varamin e Turquzabad, onde inspetores da AIEA detectaram traços de urânio processado.
A resolução solicita que o Irã apresente “explicações tecnicamente confiáveis” para justificar a presença dessas partículas de urânio em locais não informados. A AIEA planeja dar continuidade às discussões sobre o tema na próxima sexta-feira.