Taleban implanta 90 mil câmeras vindas da China, expande vigilância e endurece a repressão

Rede de monitoramento cresce sob pretexto de segurança, mas gera temor de que a medida diminuirá ainda mais as liberdades

Em uma escalada sem precedentes de vigilância e com aparente apoio da China, o Taleban implementou uma rede de 90 mil câmeras de CCTV para monitorar a vida diária em Cabul, capital do Afeganistão. Essa expansão, que representa um aumento significativo em comparação às 850 câmeras existentes antes de 2021, foi apresentada como uma medida para combater o crime e aumentar a segurança local. As informações são da rede BBC.

Khalid Zadran, porta-voz da polícia do Taleban, afirma que o sistema permite uma supervisão completa da cidade. “Monitoramos toda a cidade de Cabul daqui,” disse ele, enquanto destacava o funcionamento do sistema em uma sala de controle repleta de telas. A polícia observa fluxos contínuos de vídeo, analisando desde placas de carros até expressões faciais dos cidadãos.

Câmeras são um sinal do aumento da repressão no Afeganistão (Foto: Isaac Chou/Unsplash)

O aumento da vigilância coincide com a implementação de medidas rigorosas pelo governo talibã, que incluem restrições severas aos direitos e liberdades, especialmente das mulheres. Embora as autoridades aleguem que a ampliação do monitoramento visa reduzir a criminalidade, grupos de direitos humanos expressam preocupação quanto ao potencial de uso dessas câmeras para reprimir dissidências e monitorar a adesão ao código de moralidade baseado na interpretação da Sharia, a leis islâmica, pelo Taleban.

Em meio a essas preocupações, a infraestrutura de vigilância avançou, incorporando tecnologias como o reconhecimento facial. “Em dias claros, podemos dar zoom em indivíduos a quilômetros de distância,” revela Zadran, evidenciando a capacidade de vigilância detalhada. Notavelmente, as câmeras, que são aparentemente de fabricação chinesa, segundo a marcação nos monitores observados pela BBC, adicionam uma dimensão internacional à questão.

Apesar das garantias de que o sistema visa exclusivamente a segurança pública, o temor persiste entre os cidadãos. Fariba, uma jovem graduada de Cabul, expressa seu receio: “Há uma preocupação significativa de que as câmeras de vigilância possam ser usadas para monitorar os hijabs das mulheres.”

Segundo a ONG Anistia Internacional, a instalação de câmeras, “sob o pretexto de ‘segurança nacional’, estabelece um modelo para o Taleban continuar com suas políticas draconianas que violam os direitos fundamentais das pessoas no Afeganistão – especialmente das mulheres em espaços públicos”.

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