Talibãs disparam contra civis perto da fronteira do Afeganistão com o Paquistão

Autoridades paquistanesas dizem que uma pessoa foi morta e pelo menos 15 ficaram feridas quando combatentes jihadistas bombardearam um posto de fronteira na cidade de Chaman

Pelo menos uma pessoa foi morta e outras 15 ficaram feridas durante um combate nesta quinta-feira (15) entre as forças fronteiriças paquistanesas e afegãs, o segundo em menos de uma semana, disse uma autoridade médica paquistanesa. Mulheres e crianças estão entre as vítimas. As informações são da rede ABC News.

Disparos de artilharia pesada começaram por volta do meio-dia (horário local) perto da passagem de fronteira entre Chaman, no Paquistão, e Spin Boldak, no Afeganistão, segundo relatou o médico Akhtar Mohammed, que trabalha no principal hospital da cidade paquistanesa.

“Quatro civis estavam em estado crítico e foram enviados a Quetta para tratamento adicional”, relatou ele, acrescentando que duas crianças estavam entre os feridos. “Nenhum corpo foi levado ao hospital até agora”.

Soldado do exército do Paquistão, foto de novembro de 2018 (Foto: Wikimedia Commons)

Paquistaneses e talibãs têm trocado acusações sobre quem teria iniciado o último confronto. Desde que a organização jihadista assumiu o poder no Afeganistão no ano passado, as tensões na fronteira entre os dois países aumentaram.

O ataque ocorreu quatro dias após a morte de sete civis paquistaneses e um combatente afegão durante outro bombardeio transfronteiriço das forças do Taleban. 

Autoridades paquistanesas alegam que suas forças estavam consertando uma parte danificada da cerca da fronteira quando as autoridades do Taleban interromperam o trabalho e começaram a bombardear assentamentos civis do outro lado da linha que separa os países.

Pelo Twitter, Enayatullah Khawarazmi, porta-voz do Ministério da Defesa do governo talibã, jogou a culpa no Paquistão ao dizer que os vizinhos atiraram primeiro. E acrescentou que o “diálogo” é o caminho a seguir.

Em novembro, o Paquistão havia fechado a travessia Chaman-Spin Boldak por mais de uma semana após um oficial de segurança paquistanês ter sido morto a tiros por um atirador desconhecido. O bloqueio acabou retendo centenas de caminhões que transportavam mercadorias afegãs em ambos os lados.

Os confrontos desta quinta vêm na esteira da visita ao Paquistão do general Michael Kurilla, que lidera o comando militar dos Estados Unidos no Oriente Médio (Centcom). A autoridade esteve em conversas com o chefe militar paquistanês, general Asim Munir, em Rawalpindi, onde o exército está sediado. Em pauta, cooperação em defesa e segurança e outros assuntos regionais.

Violência crescente

O número de ataques terroristas no Paquistão aumentou 51% desde agosto de 2021, quando o Taleban assumiu o governo do vizinho Afeganistão. A afirmação é do think tank paquistanês Pak Institute for Peace Studies (PIPS), que publicou uma análise relacionando as duas ocorrências.

De acordo com a entidade, 433 pessoas morreram e 719 ficaram feridas em 250 ataques terroristas que ocorreram no Paquistão entre 15 de agosto de 2021 e 14 de agosto de 2022. No período correspondente anterior, entre 2020 e 2021, os números foram menores: 165 ataques, com 294 mortos e 598 feridos.

Conflito histórico

O Afeganistão disputa a fronteira de quase 2,6 mil quilômetros da era britânica com o Paquistão, impasse que já resultou em inúmeras tensões entre os países.

Islamabad rejeita as objeções de Cabul e afirma que o Paquistão herdou a fronteira internacional quando conquistou a independência da Grã-Bretanha em 1947.

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