Testemunhas acusam o regime de Bashar al-Assad de torturar até crianças na Síria

Três oficiais de alta patente do regime sírio estão sendo julgados à revelia na França, acusados de crimes de guerra e contra a humanidade

Desde terça-feira (21), uma corte francesa julga à revelia três oficias de alta patente do regime de Bashar al-Assad na Síria, acusados de crimes de guerra e contra a humanidade. Entre as atrocidades atribuídas ao presidente e seus comandados, testemunhas ouvidas pelo tribunal dizem ter presenciado a tortura de cidadãos considerados inimigos do Estado, inclusive crianças.

Os réus são Ali Mamlouk, Jamil Hassan e Abdel Salam Mahmoud, integrantes dos serviços de inteligência sírios. Eles são acusados de envolvimento na prisão arbitrária, tortura e morte de dois cidadãos franco-sírios, de acordo com o jornal The Guardian.

Paris tem competência para julgar o caso com base no princípio da jurisdição universal, segundo o qual tribunais locais são capacitados para abordar ocorrências internacionais que envolvam crimes como genocídio, tortura e crimes contra a humanidade, mesmo se cometidos no exterior.

Presidente sírio Bashar al-Assad durante visita à Rússia em 2015 (Foto: WikiCommons)

As vítimas, Patrick Dabbagh e o pai dele, Mazzen Dabbagh, foram presos em 2013, quando tinham respectivamente 20 e 48 anos. Cinco anos depois, as autoridades sírias informaram que ambos haviam morrido no cárcere, Patrick em 2014, Mazzen em 2018. Não foram emitidos certificado de óbito, e as famílias jamais receberam os corpos.

Durante o julgamento forma apresentados documentos levados por um oficial do governo sírio que fugiu em 2013. Entre eles estão cerca de 54 mil fotografias de cerca de 11 mil vítimas do regime que passaram por diferentes centros de detenção, especialmente na prisão de Mezzeh, onde pai e filho teriam morrido.

Um ex-prisioneiro ouvido pelo tribunal diz ter presenciado episódios de tortura contra crianças e também idosos com mais de 70 anos. Ele próprio diz ter sido agredido, queimado com pontas de cigarro e torturado com choques nos órgãos genitais.

Segundo a Rede Síria para os Direitos Humanos, ONG que atua em parceria com a ONU (organização das Nações Unidas), 15 mil pessoas foram torturadas até a morte pelo regime de al-Assad durante a guerra civil que persiste até hoje. O conflito matou mais de 230 mil civis, entre eles 30 mil crianças.

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