UE prepara sanções contra o patriarca Cirilo I, líder da Igreja Ortodoxa Russa

Aliado de primeira ordem de Putin, líder religioso pode perder propriedades e outros ativos em países ocidentais caso penalidades sejam aprovadas

Novas sanções devem atingir Vladimir pelas mãos da Comissão Europeia. Mas, dessa vez, não se trata de Putin, e, sim, de Vladimir Gundyayev, líder da Igreja Ortodoxa Russa, também conhecido como Cirilo I. As informações são da rede alemã Deutsche Welle (DW).

Aos 75 anos, nascido na antiga Leningrado – assim como seu xará, o qual considera um “milagre de Deus”  –, ordenado monge em 1969 em pleno ateísmo de Estado, Gundyayev é uma das 58 pessoas recentemente colocadas na mira da União Europeia (UE). As penalidades que poderão pesar contra ele vão desde a proibição de viagens até o congelamento de bens devido à proximidade e apoio ao presidente russo em seus ataques à Ucrânia.

A recomendação da Comissão Europeia de sancionar o patriarca deve passar pelo crivo de Estados-membros da UE. Se for aprovado, Cirilo I pode perder propriedades e outros ativos que se acredita ter em países ocidentais. As sanções também inviabilizariam sua presença na 11ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, marcada para agosto em Karlsruhe, no oeste da Alemanha.

Vladimir Putin e o patriarca Cirilo (Foto: Wikimedia Commons)

A relação entre Putin e o patriarca de Moscou é íntima e cheia de coincidências. Ambos nasceram em São Petersburgo, têm vínculos com a KGB (extinto serviço secreto da era soviética) e compartilham da visão das políticas antigay do Kremlin e dos valores liberais.

Gundyayev ascendeu à liderança na Igreja em 2009, entre os dois longos mandatos de Putin como presidente. Em contraste com seu antecessor, Cirilo é um entusiasta das intervenções militares do presidente russo no exterior, tendo inclusive definido as operações na Síria como “luta santa”.

O líder religioso também endossa o eufemismo usado por Putin para o conflito como “operação militar especial”. Nem mesmo as alegações de crimes de guerra e contra a humanidade amoleceram Cirilo I: sua opinião segue sólida de que a invasão é sobre segurança nacional, e não uma agressão ao país vizinho.

E a relação vai muito além de “apoio moral”. Há grandes benefícios do Estado. Entre eles, carta verde para o ensino de religião nas escolas do país e a isenção de impostos na receita da igreja.

Papa faz críticas

O papa Francisco, historicamente neutro quanto a críticas a outros homens que detêm o mesmo nível de autoridade religiosa, assim como outros líderes de igrejas mundo afora, está começando a mudar de atitude. O pontífice inclusive disse que falou com o Patriarca Cirilo e contestou sua submissão: “Não se transforme no coroinha de Putin”.

“Temos que encontrar nosso caminho para a paz e parar o tiroteio. O patriarca não pode ser o mensageiro de Putin”, disse Francisco ao jornal italiano Corriere della Sera.

Ambos os líderes estarão frente a frente em Jerusalém em junho, o primeiro encontro desde que se conheceram em Cuba em 2016. As expectativas do papa, no entanto, são tidas como baixas, temendo “sinais ambíguos”, acrescentou ele na entrevista.

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