O presidente da China, Xi Jinping, afirmou que o Exército de Libertação Popular (ELP) enfrenta “problemas profundos” relacionados a política, ideologia, estilo de trabalho e disciplina, conforme relatado pela emissora estatal CCTV na quarta-feira (19). A declaração vem na esteira de uma campanha anticorrupção nas Forças Armadas. As informações são da agência Reuters.
Durante uma conferência de trabalho político-militar realizada nesta semana na cidade de Yanan, um local historicamente significativo para o Partido Comunista Chinês (PCC), Xi declarou que “não deve haver esconderijo para elementos corruptos no exército”.
Xi acrescentou que os quadros de todos os níveis, especialmente os superiores, “precisam demonstrar coragem ao admitir suas falhas”, colocando de lado seu prestígio. “Eles devem refletir profundamente sobre si mesmos, fazer correções sérias e resolver problemas fundamentais em sua forma de pensar”, disse o líder.
Ele também afirmou que os desafios políticos enfrentados atualmente pelo ELP são “intrincados e complexos” e que a situação nacional, partidária e militar, está “passando por mudanças complexas e profundas”. E se comprometeu a “ampliar os recursos para combater novos tipos de corrupção e práticas corruptas ocultas” e a intensificar a supervisão sobre os quadros superiores.

Atuação militar comprometida pela corrupção
A declaração surge em meio a um processo de expurgo promovido pelo presidente no ELP, que vinha sendo abordado com máxima discrição pelo governo. No início do ano, a inteligência dos EUA jogou luz sobre a questão, afirmando que a corrupção generalizada comprometeu o funcionamento do arsenal militar e forçou Beijing a realizar mudanças drásticas na cúpula de suas Forças Armadas
O processo de caça aos corruptos inclusive comprometeu eventuais planos do país de entrar em uma guerra neste momento. Autoridades norte-americanas ouvidas pela rede Bloomberg disseram que a corrupção freou o processo de modernização estabelecido por Xi, e qualquer grande ação militar, como uma eventual invasão de Taiwan, teria que ser adiada por alguns anos.
As fontes, cujas identidades foram mantidas em sigilo, disseram que o desvio de dinheiro teria levado a situações constrangedoras, como silos de mísseis incapazes de operar em função de componentes carentes de manutenção e foguetes com água misturada ao combustível, o que impediria um eventual lançamento em caso de guerra.
A corrupção teria forçado o presidente a mudar os planos no meio do processo de modernização, colocando o combate aos desvios de dinheiro como prioridade. Assim, em julho do ano passado, criou um novo mecanismo para investigar vazamentos de informações e licitações direcionadas para beneficiar determinadas empresas.
Veio, então, o expurgo. A primeira vítima foi o ministro da Defesa Li Shangfu, que ocupou o cargo por apenas sete meses e foi destituído em outubro do ano passado. Também caíram cinco autoridades da força de mísseis do ELP, dois membros do Departamento de Desenvolvimento de Equipamentos e três executivos de empresas estatais de fabricação de mísseis. Sem contar as demissões mantidas sob sigilo.
Embora o PCC guarde segredo quanto aos detalhes, já havia deixado claro que a corrupção precisa ser combatida, citando o problema em um editorial da imprensa oficial das Forças Armadas no dia 1º de janeiro.
O próprio Xi havia tocado no tema em janeiro, segundo a revista Newsweek. “Após dez anos de esforços anticorrupção incansáveis e poderosos na nova era, alcançamos uma vitória esmagadora e consolidamos de forma abrangente as nossas conquistas. No entanto, a situação continua terrível e complexa”, disse o presidente à Comissão Central de Inspeção Disciplinar, o mais alto órgão de supervisão do PCC.