O governo da Rússia planejava assassinar executivos de diversas empresas europeias do setor de defesa, na tentativa de comprometer o fornecimento de armas à Ucrânia. Um dos planos, que tinha como alvo o gestor de uma companhia alemã, chegou a ser colocado em prática, mas foi descoberto graças a uma investigação conduzida pela inteligência dos EUA. As informações são da rede CNN.
Cinco autoridades ocidentais familiarizadas com os fatos confirmaram que a ação de agentes norte-americanos impediu o assassinato de Armin Papperger, CEO da Rheinmetall, uma empresa da Alemanha que atua nos setores automobilístico e de defesa e tem papel importante no fornecimento de projéteis de artilharia usados por Kiev na guerra.
Ao descobrirem que a vida de Papperger estava em perigo, as autoridades dos EUA alertaram o governo da Alemanha, que então destacou seus serviços de segurança para proteger o executivo. Embora o plano seja o mais importante já descoberto desde o início da guerra, está inserido em um contexto mais amplo de atos de sabotagem planejados por Moscou.

“Estamos vendo sabotagem, estamos vendo conspirações de assassinato, estamos vendo incêndios criminosos. Estamos vendo coisas que têm um custo em vidas humanas”, disse um alto funcionário da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na terça-feira (9). “Acredito muito que estamos vendo uma campanha de atividades secretas de sabotagem da Rússia que têm consequências estratégicas.”
Em maio, o secretário-geral da aliança militar transatlântica, Jens Stoltenberg, já havia alertado para a campanha orquestrada pela Rússia. “Os aliados da Otan estão profundamente preocupados com as recentes atividades maliciosas em território aliado, incluindo aquelas que resultaram na investigação e acusação de vários indivíduos em conexão com atividades estatais hostis que afetam República Tcheca, Estônia, Alemanha, Letônia, Lituânia, Polônia e Reino Unido”, disse ele.
Nesse cenário, o alvo preferencial parece mesmo a Alemanha. No ano passado, Thomas Haldenwang, chefe do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), o serviço interno de inteligência, afirmou que há um “grande número de agentes” russos no país, quase sempre próximos a pessoas poderosas.
Mais recentemente, em junho deste ano, ele disse que Moscou passou a adotar uma segunda estratégia, vez que muitos de seus agentes haviam sido desmascarados. Assim, passou a usar incentivos financeiros para recrutar espiões estrangeiros em substituição aos russos identificados e expulsos pelos governos europeus.
A revelação surgiu acompanhada de uma denúncia contra dois alemães que teriam recebido cerca de 400 mil euros cada um para que atuassem a serviço da inteligência russa. De acordo com Haldenwang, o alto valor do suborno “mostra que os serviços da Rússia continuam a ter enormes recursos financeiros para prosseguir os seus objetivos de inteligência.”
Questionado sobre os planos de assassinato contra os executivos do setor de defesa, o governo alemão se recusou a comentar. A reportagem não deixou claro se os crimes seriam conduzidos por agentes russos que atuam dentro dos países europeus ou por cidadãos estrangeiros recrutados por Moscou.