Preso desde 2021, líder democrático de Mianmar morre aos 73 anos

Zaw Myint Maung foi vice-presidente do principal partido do país e lutava contra um câncer

Morreu na segunda-feira (7) Zaw Myint Maung, uma das mais importantes lideranças democráticas de Mianmar. Ele estava preso desde 2021, quando o país foi palco de um golpe de Estado, e recentemente foi transferido da prisão para um hospital, onde realizava tratamento contra câncer. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

“Perdemos uma pessoa importante para o nosso partido e para o país”, disse Bo Bo Oo, vice-presidente do partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês). “Gostaria de solicitar que nossos líderes partidários e as pessoas que foram injustamente presas sejam libertadas o mais rápido possível para evitar que tais perdas aconteçam sem o tratamento médico adequado nas prisões.”

Maung era um importante aliado da líder democrática Aung San Suu Kyi, que também está encarcerada. Ele foi uma das primeiras pessoas presas quando os militares assumiram o poder em Mianmar em fevereiro de 2021. Desde então, a repressão colocou cerca de dois mil membros do partido atrás das grades.

Zaw Myint Maung, líder democrático de Mianmar (Foto: Nyiminsan/WikiCommons)

Os aliados sempre classificaram as acusações contra ele como politicamente motivadas. A condenação, de 29 anos de reclusão, ocorreu por supostos crimes de corrupção, violação das regras de combate à Covid-19 e fraude eleitoral.

A popularidade de Maung forçou os militares a aceitar a transferência dele da prisão para um hospital, onde não conseguiu vencer a luta contra o câncer. Uma situação que não vale para todos os opositores, conforme grupos de direitos humanos acusam a junta de negar tratamento médico a muitas pessoas encarceradas.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar, inclusive vetando resoluções que venham a condenar a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral, como no caso de dezembro de 2022.

Inicialmente, o golpe de Estado foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu financeiramente com a queda. Mas o cenário mudou rapidamente. Para não se distanciar da junta, Beijing classificou a prisão de Suu Kyi e de outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete”, palavras usadas pela agência de notícias estatal Xinhua.A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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