Taiwan diz que eventual bloqueio imposto pela China seria um ‘ato de guerra’

Beijing tem realizado manobras militares para ensaiar um cerco cujo objetivo seria sufocar a ilha, forçando-a a aceitar o controle chinês

Caso a China venha a impor a Taiwan um bloqueio aéreo e marítimo, com o objetivo de cortar as rotas de suprimentos destinados à ilha, tal medida será recebida como um ato de guerra. A afirmação é do ministro da Defesa taiwanês Wellington Koo, que nesta quarta-feira (23) comentou os exercícios militares que o Exército de Libertação Popular (ELP) chinês continua realizando. O relato é da rede Al Jazeera.

“Se você realmente quer realizar o chamado bloqueio, que de acordo com o direito internacional é proibir todas as aeronaves e navios de entrarem na área, então, de acordo com as resoluções das Nações Unidas, isso é considerado uma forma de guerra”, disse Koo.

O bloqueio é uma hipótese que vem sendo levantada há tempos por analistas, pois permitira à China sufocar Taiwan sem necessariamente iniciar uma guerra. Se colocada em prática, a medida aceleraria o consumo de materiais essenciais e levaria Taiwan ao colapso, jogando para os aliados ocidentais a decisão de abrir fogo contra o ELP ou não.

Navios de guerra da Marinha chinesa durante treinamento militar (Foto: eng.chinamil.com.cn)

A manifestação de Koo surge, ainda, na esteira doas manobras militares chinesas que prosseguem no entorno da ilha. A movimentação começou na semana passada, foi brevemente interrompida e posteriormente retomada.

O Ministério da Defesa Nacional taiwanês relatou na semana passada, segundo a rede CNN, que avistou 153 aeronaves chinesas em 25 horas, um recorde. Destas, 111 cruzaram a Linha Mediana, uma fronteira informal que até recentemente era respeitada por Beijing. Antes, o maior número de aviões chineses no entorno da ilha havia sido de 103 ao longo de 24 horas, em setembro de 2023.

“Quero enfatizar que exercícios e simulações são totalmente diferentes de um bloqueio, assim como o impacto na comunidade internacional”, declarou o ministro da Defesa, acrescentando que a comunidade internacional “não poderia ficar parada e apenas assistir” caso Beijing efetivamente colocasse em prática o cerco a Taiwan.

Em 2020, o governo taiwanês publicou um documento segundo o qual o bloqueio surge como alternativa porque, ao contrário dele, a invasão criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Avaliação semelhante à do almirante Karl Thomas, veterano oficial da Marinha norte-americana ouvido pelo The Wall Street Journal em setembro de 2022.

Para Thomas, bloquear a ilha surge como uma opção menos danosa e igualmente efetiva. “Eles têm uma Marinha muito grande. Se quiserem intimidar e colocar navios em Taiwan, podem fazer isso”, disse o militar na ocasião, concordando que a ação não letal colocaria as nações ocidentais, sob a liderança dos EUA, em uma encruzilhada quanto à melhor forma de punir a China.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

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