A Coreia do Sul vive um momento de profunda incerteza política, com o presidente Yoon Suk-yeol proibido de deixar o país e sob investigação por traição, após sua decisão de declarar a lei marcial na semana passada. Apesar disso, ele permanece no cargo, gerando confusão entre analistas e diplomatas que questionam quem, de fato, está liderando o país. As informações são do Financial Times.
Na última semana, o parlamento sul-coreano foi palco de um impasse político, quando legisladores do partido governante boicotaram a votação que poderia resultar no impeachment de Yoon, garantindo sua permanência no poder. Os líderes de seu partido, o Poder Popular, afirmaram que o presidente se afastaria de suas funções enquanto negociações sobre sua saída estavam em andamento, abrindo espaço para um cenário político cada vez mais nebuloso.

Quando questionado pelo Financial Times sobre quem está governando a Coreia do Sul, um porta-voz presidencial respondeu de forma vaga: “Não há uma resposta oficial para essa pergunta”. A incerteza sobre a liderança do país é evidente, com especialistas apontando que a falta de clareza sobre quem exerce o comando das forças armadas agrava ainda mais a situação. “Ninguém sabe quem está no comando”, afirmou Karl Friedhoff, especialista em política coreana do Chicago Council on Global Affairs. “Isso é o oposto de uma transição ordenada.”
A situação se torna ainda mais complexa à medida que o primeiro-ministro Han Duck-soo e o líder do partido de Yoon, Han Dong-hoon, anunciaram que o presidente não se envolveria mais em assuntos de Estado enquanto se buscava uma “saída ordeira”. No entanto, acadêmicos jurídicos questionam a legalidade desse acordo, argumentando que a Constituição da Coreia do Sul não prevê a transferência formal de poderes presidenciais para outra pessoa, a menos que o presidente seja permanentemente incapaz ou haja uma votação de impeachment aprovada pela Assembleia Nacional.
Apesar da aparente falta de autoridade de Yoon, especialistas ressaltam que ele ainda é a autoridade final em decisões de Estado. Kim Seon-taek, professor de direito da Universidade da Coreia, afirmou que, legalmente, ele continua sendo o presidente, e que nenhuma decisão pode ser tomada sem sua assinatura. A situação, portanto, se configura como extremamente volátil e incerta.
A crise política também coloca em risco a segurança nacional. A Coreia do Sul enfrenta uma situação de alta tensão com a Coreia do Norte, e a falta de clareza sobre quem está no comando das forças armadas gerou preocupações de que Yoon possa tentar novamente impor a lei marcial. Embora vários oficiais militares tenham declarado publicamente que não obedeceriam a tais ordens, o Ministério da Defesa da Coreia do Sul confirmou que Yoon continua sendo o comandante-em-chefe.
Além disso, a Coreia do Sul está sem um ministro da Defesa após a renúncia de Kim Yong-hyun, causada pelos eventos da semana passada. Embora o primeiro-ministro tenha indicado um substituto, a nomeação ainda precisa da aprovação de Yoon, o que mantém a incerteza sobre a administração do setor de defesa.
A crise política também tem repercussões econômicas. Investidores estão apreensivos com o impacto da instabilidade interna, especialmente em um momento de desafios econômicos globais. A falta de clareza sobre a liderança política levanta questões sobre a capacidade da Coreia do Sul de enfrentar possíveis crises econômicas e geopolíticas. Alguns analistas temem que uma crise intercoreana possa eclodir enquanto o país se encontra em um período de incerteza política.
Enquanto isso, o partido governista parece apostar na estratégia de adiar a saída de Yoon, esperando que isso possa melhorar suas chances nas próximas eleições. No entanto, a oposição também enfrenta seus próprios problemas, com o líder Lee Jae-myung, acusado de envolvimento em um esquema de desvio de recursos para a Coreia do Norte. O caso ainda não foi julgado, mas a acusação pode ter implicações significativas para o futuro político do país.