Estado Islâmico pode ressurgir no vácuo de poder na Síria, alertam especialistas

Grupo extremista tenta explorar a fragilidade política e militar no país após a queda do presidente Bashar al-Assad

Após anos de enfraquecimento, iniciado com a derrota em seus principais redutos, o Estado Islâmico (EI), outrora considerado uma força extinta, retorna ao centro das preocupações internacionais. Com remanescentes espalhados pelo vasto deserto que liga a Síria ao Iraque, o grupo extremista tenta explorar a fragilidade política e militar no país arruinado pela guerra civil, alertam especialistas em segurança e política internacional. As informações são da rede Radio Free Europe.

A queda do presidente Bashar al-Assad, derrubado no início de dezembro por militantes da Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), organização extremista associada à Al-Qaeda, agravou a instabilidade no país. Enquanto o HTS forma uma administração de transição em Damasco, grupos armados díspares ainda controlam regiões estratégicas, como Deir ez-Zor, rica em petróleo. Essa desordem oferece ao EI uma oportunidade para retomar atividades, afirmam analistas.

Imagem de propaganda veiculada pelo Estado Islâmico em 2015 (Foto: Creative Commons)
O modus operandi do EI: adaptação ao caos

O EI já demonstrou sua capacidade de se reinventar. Em 2014, chocou o mundo ao conquistar amplas áreas na Síria e no Iraque, estabelecendo um califado autoproclamado. Derrotado em 2018 por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, o grupo recuou, mas não desapareceu.

“O EI é o tipo de movimento que se molda ao ambiente, explorando brechas e tensões locais para crescer”, explica Fatima Ayub, pesquisadora do Oriente Médio baseada em Washington. Segundo Ayub, a fragmentação do controle político na Síria é o terreno fértil ideal para que o grupo se reestruture.

Nos últimos dias, os EUA intensificaram ataques aéreos contra alvos do EI na Síria. Segundo o Pentágono, 75 locais, incluindo esconderijos e campos usados por militantes, foram bombardeados em uma tentativa de enfraquecer a capacidade do grupo.

Tensão nas áreas controladas pelas FDS

No nordeste da Síria, as Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas por curdos e apoiadas pelos EUA, enfrentam uma tarefa difícil. Além de manter milhares de combatentes e familiares do EI detidos em campos superlotados, as FDS precisam lidar com células adormecidas do grupo que continuam realizando ataques esporádicos.

Anne Speckhard, diretora do Centro Internacional para o Estudo do Extremismo Violento, alerta que apoiadores armados do EI podem tentar invadir prisões para libertar membros detidos. Isso reativaria as operações do grupo, possibilitando a retomada de seu projeto de califado territorial.

Enquanto isso, o HTS tenta consolidar poder em Damasco, mas enfrenta desafios em regiões fora de sua influência. “A falta de uma autoridade central unificada em toda a Síria pode levar a um ciclo renovado de conflito e instabilidade prolongada”, avalia Aymenn Al-Tamimi, analista especializado em extremismo.

Uma ameaça longe de ser extinta

Desde 2014, os EUA lideram uma coalizão global para combater o EI, alcançando marcos como a morte de Abu Bakr al-Baghdadi, líder fundador do grupo, em 2019. Mesmo assim, o EI continua a explorar divisões sectárias e rivalidades locais.

“O objetivo do EI é semear caos e destruição, aproveitando-se de situações instáveis para crescer”, explica Ayub. Para analistas, a chave para conter a ameaça está na cooperação internacional contínua e no fortalecimento das forças locais.

Com os combates em Deir ez-Zor e o aumento da tensão entre grupos armados, o futuro da Síria segue incerto. Observadores internacionais acompanham a situação, avaliando a possibilidade de que o vazio de poder facilite um eventual ressurgimento do EI.

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