Quem é quem no conflito da Síria que derrubou Bashar al-Assad

Entenda o papel dos principais atores internacionais durante o regime do presidente sírio deposto neste fim de semana

No domingo (8), o presidente sírio Bashar al-Assad deixou o país às pressas, fugindo para Moscou após rebeldes liderados por facções islâmicas tomarem a capital Damasco. A queda do governo, que comandou com mão de ferro por mais de cinco décadas através do partido Baath, foi recebida com comemorações em várias regiões da Síria e no exterior.

Agências de notícias russas confirmaram que al-Assad e sua família estão em Moscou, onde buscaram refúgio sob a proteção do Kremlin. A fuga foi revelada por líderes rebeldes, que, após uma ofensiva de 11 dias, assumiram o controle completo de Damasco.

Rebeldes sírios em combate contra forças do governo em Damasco (Foto: WikiCommons)

Nas ruas da capital Síria, centenas de pessoas visitaram a antiga residência de Assad, outrora um símbolo do luxo e do poder do regime, agora tomada pelos insurgentes. “Isso é o início de uma nova era para a Síria”, afirmou um manifestante que participou das comemorações, repercutiu a France24.

Nos últimos anos, o interesse global em resolver a crise na Síria diminuiu drasticamente. Em Washington, sugestões de ações no país geravam reações de desânimo e ceticismo, refletindo a falta de prioridade para o país. No entanto, a situação no país do Oriente Médio continuou a se deteriorar: houve ressurgimento do Estado Islâmico (EI), um comércio de drogas significativo vinculado ao regime, e tensões geopolíticas entre várias potências, incluindo Israel, Irã, Turquia, Rússia e os Estados Unidos.

QUEM É QUEM

Entenda o papel de atores internacionais durante o regime de Assad:

Rússia: aliada de longa data do regime de Bashar al-Assad, a Rússia apresentou apoio militar essencial para manter Assad no poder até sua queda. Moscou possui interesses estratégicos na Síria, incluindo bases militares e influência geopolítica na região. No entanto, o objetivo russo de manter uma presença relativamente discreta na Síria, que não exigisse grandes recursos financeiros nem desviasse a atenção das frentes ucranianas, foi se tornando cada vez mais inviável, especialmente diante do aumento da presença dos EUA, provocado pelas ações de Moscou no país.

Estados Unidos: os EUA inicialmente apoiaram os rebeldes sírios contra Assad e, posteriormente, focaram em combater o Estado Islâmico (EI). O país mantém uma presença militar limitada na Síria, principalmente para apoiar as Forças Democráticas Sírias (FDS),  cuja espinha dorsal é composta por unidades curdas, e evitar o ressurgimento do EI. De 2022 para cá, Washington teve, finalmente, uma justificativa clara para continuar a sua campanha na Síria. Quanto mais a Rússia se envolveu no Oriente Médio, mais difícil se tornou para Moscou lidar com a Ucrânia.

Turquia: a Turquia apoia grupos rebeldes na Síria e busca conter a influência curda, especialmente da YPG (Unidade de Proteção do Povo), que considera um braço do PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos). O PKK, classificado como grupo terrorista pelo governo de Recep Tayyip Erdogan, luta pela autonomia curta na Turquia. Ancara também tem realizado operações militares no norte do país para criar uma zona de segurança ao longo de sua fronteira.

Irã: o Irã foi outro grande aliado de Assad e forneceu apoio militar e financeiro ao regime sírio. Além disso, enviou milhares de conselheiros militares e milicianos para lutar ao lado das forças governamentais sírias. Teerã busca manter sua influência na Síria como parte de sua estratégia regional e para apoiar grupos aliados como o Hezbollah.

Hayat Tahrir Al-Sham (HTS): organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista. O HTS tem sido um dos principais grupos rebeldes na Síria e tem mantido fortes laços com o Estado Islâmico. O grupo é liderado por Abu Mohammed al-Golani, terrorista procurado pelo governo dos EUA e que tem buscado uma aproximação com o Ocidente, aproveitando o fato de que é inimigo do governo sírio, este apoiado por Rússia e Irã.

Estado Islâmico (EI): o grupo jihadista controlou grandes áreas da Síria e do Iraque. Embora tenha perdido a maior parte de seu território, o EI ainda representa uma ameaça significativa na região. O grupo radical passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos: no Iraque, em 2014, e na Síria, em 2019. Embora o “califado” criado pela facção no território sírio tenha chegado ao fim, alguns líderes permaneceram no país, onde agora se observa um ressurgimento do grupo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo. O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. 

Forças Democráticas Sírias (FDS): uma coalizão de milícias curdas e árabes apoiada pelos EUA. As FDS têm sido um dos principais aliados de Washington EUA na luta contra o Estado Islâmico e controlam grandes áreas no norte e leste da Síria.

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