As negociações de paz sobre a guerra da Ucrânia que aconteceriam nesta quarta-feira (23) em Londres foram abruptamente adiadas, segundo confirmou o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido. A decisão foi tomada após o cancelamento de participação de importantes diplomatas, sobretudo o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).
O anúncio da suspensão veio poucas horas antes do início previsto para a reunião, que contaria com a presença do chefe da diplomacia ucraniana, Andrii Sybiha.
“Isto é para confirmar que a reunião das conversações de paz sobre a Ucrânia com os ministros das Relações Exteriores, hoje, está sendo adiada. As conversas em nível oficial continuarão, mas serão fechadas à imprensa”, diz comunicado enviado à RFE pelo governo britânico.
O esvaziamento do encontro é mais um sinal das dificuldades enfrentadas pelas tentativas de pôr fim à guerra que já dura 38 meses. A retirada de Rubio, acompanhada pela possível ausência do chanceler britânico David Lammy — não confirmada oficialmente até o momento —, reduziu a expectativa de avanços e lançou dúvidas sobre o comprometimento das potências ocidentais com o processo.

Entre diplomatas europeus, a decisão dos Estados Unidos foi interpretada como um recado direto a Kiev. “Acho que todos lemos isso da mesma forma”, disse um representante europeu sob condição de anonimato. “São os Estados Unidos dando mais um passo para sair do processo.”Outro diplomata reforçou a leitura: “Vejo isso como uma pressão adicional sobre os ucranianos: aceitem ou deixem para lá. Não temos tempo para vocês, temos outras prioridades.”
Apesar do adiamento, a delegação ucraniana, incluindo o ministro Andrii Sybiha e o chefe de gabinete do presidente Volodymyr Zelensky, Andriy Yermak, viajou a Londres. Em publicação no Telegram, Yermak declarou que, “apesar de tudo, continuaremos trabalhando pela paz.”
Na semana anterior, Rubio, autoridades ucranianas e representantes europeus haviam se reunido em Paris, mas o encontro resultou em pouco progresso. Durante visita à Índia, o vice-presidente dos EUA, JD Vance, demonstrou impaciência com o ritmo das negociações e afirmou que Washington apresentou uma proposta “muito explícita” a Rússia e Ucrânia. “É hora de eles aceitarem ou os Estados Unidos se retiraram desse processo”, disse.
Ucrânia sob pressão
Entre as concessões listadas pelos negociadores norte-americanos, segundo reportagens de The Wall Street Journal, Bloomberg e CNN, estariam o possível reconhecimento da anexação da Crimeia pela Rússia e o abandono da intenção ucraniana de aderir à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) — dois pontos que Kiev considera inegociáveis. “A Ucrânia não reconhecerá a ocupação da Crimeia”, afirmou Zelensky em entrevista na terça (22). “É nosso território, território do povo da Ucrânia, não há o que discutir sobre isso.”
Questionado sobre as propostas, o Kremlin evitou comentários, mas destacou que o adiamento da reunião em Londres demonstra que “ainda há muitas diferenças a serem superadas” e que “existem muitos detalhes que precisam ser resolvidos”.
Enquanto isso, o ministro da Defesa britânico, John Healey, afirmou ao Parlamento que não há sinais de recuo nos ataques russos contra a Ucrânia. “Embora [o presidente russo Vladimir] Putin tenha dito que declarou uma trégua de Páscoa, ele a quebrou”, disse Healey no dia 22. “Enquanto Putin diz querer paz, rejeitou um cessar-fogo total e, embora afirme buscar o fim dos combates, continua ganhando tempo nas negociações.”