Wagner Group deixa o Mali, mas Rússia mantém presença com nova força paramilitar

Retirada do tradicional grupo militar privado marca transição para o The Africa Corps, vinculado ao Ministério da Defesa russo

O Wagner Group anunciou no final da semana passada sua retirada do Mali após mais de três anos e meio de operações militares no país africano. A saída ocorre em meio a fortes perdas em combate contra jihadistas e denúncias de abusos contra civis. “Missão cumprida. A Companhia Militar Privada Wagner retorna para casa”, declarou o grupo em seu canal no Telegram, segundo relato da agência Associated Press (AP).

Mesmo com a retirada dos mercenários, a presença militar russa no Mali continuará. The Africa Corps, nova força paramilitar subordinada diretamente ao Ministério da Defesa da Rússia, afirmou que a saída do Wagner Group “não trará mudanças” e que o contingente russo permanecerá no país.

Porta da nova sede do Wagner Group tem a logomarca da organização (Foto: reprodução/VK)

O Wagner Group foi enviado ao Mali no final de 2021, logo após um golpe militar, com o objetivo de apoiar o exército malinês no combate a grupos insurgentes ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI). A chegada dos russos coincidiu com a saída das forças francesas e de missões internacionais de paz. Desde então, o grupo e o exército do Mali têm sido acusados de envolvimento em massacres e desaparecimentos forçados. Em dezembro, a ONG Human Rights Watch (HRW) acusou ambos de matar pelo menos 32 civis em um período de oito meses.

Na última semana, combatentes do Jama’a Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), ligado à Al-Qaeda, mataram dezenas de soldados em um ataque a uma base militar no centro do Mali. Os confrontos intensos podem ter antecipado a saída do Wagner Group.

“A ausência de um anúncio oficial e conjunto entre as autoridades do Mali e o Wagner indica uma possível disputa interna que levou a essa decisão repentina. Ao mesmo tempo, isso pode apontar para um novo modelo de presença russa no país”, afirmou Rida Lyammouri, especialista do think tank Policy Center for the New South, com sede no Marrocos.

Após a morte do líder do Wagner Group, Evgeny Prigozhin, em um acidente aéreo em 2023, o Kremlin acelerou planos para substituir os mercenários por uma força estatal. “Desde a morte de Prigozhin, a Rússia vem planejando subordinar o Wagner Group ao Ministério da Defesa. Uma das etapas foi criar o Africa Corps, que manteria a presença russa nas regiões em que o grupo operava”, explicou Beverly Ochieng, analista de segurança da consultoria Control Risks.

Com a transição, a atuação russa no Mali deve se tornar menos combativa e mais institucionalizada. “O Africa Corps tem uma presença mais leve e se concentra em treinamento, fornecimento de equipamentos e serviços de proteção. Eles combatem menos do que os mercenários do tipo ‘Rambo’ do Wagner Group”, observou Ulf Laessing, diretor do programa Sahel na Fundação Konrad Adenauer.

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