Uma milícia armada aliada da China está garantindo a segurança de novas minas de terras raras no estado de Shan, no leste de Mianmar. A movimentação ocorre no momento em que Beijing tenta reforçar o controle sobre minerais usados em setores críticos como energia renovável, indústria automotiva e tecnologia médica. As informações são da agência Reuters.
As minas estão protegidas pela United Wa State Army (UWSA), segundo quatro fontes ouvidas pela reportagem, duas das quais identificaram membros da milícia pelos uniformes utilizados no local. Trata-se de uma das maiores forças armadas não estatais de Shan, com histórico de cooperação militar e econômica com Beijing e domínio sobre uma vasta região próxima à fronteira.
O avanço em Shan começou depois que rebeldes tomaram uma área produtiva de terras raras no norte do país, na região de Kachin, dificultando o acesso da China ao material. Nos quatro primeiros meses deste ano, quase metade das importações chinesas desse tipo de minério vieram de Mianmar, segundo dados da alfândega chinesa.

Em resposta à instabilidade, empresários chineses passaram a abrir novas minas entre Mong Hsat e Mong Yun, a cerca de 200 quilômetros da fronteira. De acordo com trabalhadores locais, as operações funcionam em turnos contínuos e utilizam produtos químicos para extração.
A entrada nas áreas de mineração é controlada rigidamente pela UWSA. Segundo a organização Shan Human Rights Foundation, só é possível circular pela região com documentos de identidade emitidos pela própria milícia. Já as minas são operadas por empresas chinesas com supervisão de gerentes que falam mandarim, segundo dois trabalhadores e integrantes da fundação de direitos humanos.
Ainda que menores do que as instalações em Kachin, as minas de Shan devem fornecer os mesmos elementos, como disprósio e térbio, usados em ímãs de alto desempenho.
A UWSA, que comanda uma região do tamanho da Bélgica, mantém um efetivo estimado entre 30 mil e 35 mil combatentes, equipados principalmente com armamentos de fabricação chinesa. Apesar do cessar-fogo com a junta militar de Mianmar, o grupo atua de forma autônoma e é considerado por analistas chineses uma opção mais estável para operar negócios na fronteira.
“A UWSA funciona como instrumento estratégico da China para manter influência sobre a fronteira com Mianmar e sobre outros grupos armados”, afirmou Ye Myo Hein, do think tank Southeast Asia Peace Institute.