Brasil começará em 2024 a produzir ímãs de terras raras em Minas Gerais

Atualmente, mais de 90% desses componentes são importados da China, levando o país a buscar alternativas estratégicas

Em um esforço para fortalecer sua autonomia na produção de tecnologias sustentáveis e outros avanços tecnológicos desenvolvidos a partir de minerais críticos, o Brasil planeja iniciar a fabricação de ímãs de terras raras a partir de abril de 2024, segundo o jornal O Globo. O anúncio feito na última quinta-feira (21) e abrirá caminho para o efetivo início das operações do empreendimento na cidade de Lagoa Santa.

Os ímãs de terras raras são essenciais para turbinas eólicas, motores de veículos elétricos e dispositivos eletrônicos diversos. Atualmente, mais de 90% desses componentes são importados da China, levando o país a buscar alternativas estratégicas.

A iniciativa ganhará vida por meio do Laboratório de Produção de Ímãs de Terras Raras (Labfab ITR), localizado nas instalações da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge). O centro de pesquisa, agora sob a administração da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), surge como resultado de um investimento significativo de R$ 35 milhões.

China é líder global na produção e controle de metais de terras raras, desempenham um papel crucial em tecnologias de ponta, como eletrônicos e energias renováveis (Foto: Terence Wright/Flickr)

O laboratório, dotado de uma capacidade anual de produção de cem toneladas de ímãs, demonstra planos ambiciosos para o futuro. Durante o ano inaugural de operação, a expectativa é alcançar uma produção inicial de cinco toneladas.

O processamento deve triplicar no segundo ano, atingindo a capacidade total de 30 toneladas de óxido de neodímio importado da China e do Reino Unido. A Codemge indica que a capacidade de produção pode ser ampliada para 250 toneladas por ano com a estrutura atual.

O diretor-presidente da Codemge, Thiago Toscano, afirmou ao jornal Estado de Minas que a flexibilidade na importação de insumos importados permitirá ao laboratório entrar rapidamente em operação. Ele destacou a eficiência prevista para a indústria, que contará com uma planta piloto, a planta principal e laboratórios vinculados ao projeto. Toscano também salientou que a transferência para a iniciativa privada resultará em uma economia anual de aproximadamente R$ 5 milhões para o governo.

Metais essenciais

As chamadas terras raras (da sigla em inglês REE, RareEarth Element) são 17 metais essenciais à fabricação de produtos de alta tecnologia, usados ​​para fazer os ímãs utilizados tanto para fins comerciais quanto de uso militar.

Não à toa, esses depósitos de minerais estratégicos, por conta de sua aplicação em produtos high tech, são responsáveis pela extração das “vitaminas da indústria”, “combustível do futuro” e “ouro do século 21”, apelidos que refletem sua importância no setor. E o Brasil é um privilegiado, já que possui a segunda maior reserva mundial de REE, de acordo com artigo publicado pelo Jornal da USP (Universidade de São Paulo). 

Atualmente, o estado de Minas Gerais lidera em pesquisas e projetos para a produção de elementos de terras raras. Em 2023, duas mineradoras australianas anunciaram projetos para a produção de terras raras a partir de argila iônica, enquanto uma terceira, sul-africana, firmou acordo com uma produtora de fertilizantes para extrair REE dos resíduos da produção de fertilizantes fosfatados. Além disso, uma empresa brasileira assinou um protocolo para realizar atividades de mineração de terras raras em Patos de Minas.

O cenário favorável, no entanto, não dá muita vantagem ao país em relação ao resto do mundo, conforme apontou estudo realizado pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), o Serviço Geológico do Brasil.

Esta é uma situação que gera ao país uma grande dependência externa, conforme analisou em conversa com A Referência, em dezembro de 2022, Fernando Landgraf, coordenador do projeto intitulado “Patria” – Processamento e Aplicação de Ímãs de Terras-Raras para Indústria de Alta Tecnologia.

O pesquisador deu uma síntese das dificuldades enfrentadas pelo país: “Custo.” E explicou o argumento: “Só o investimento estatal poderia assumir os riscos e custos de colocar em operação uma instalação complexa.”

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