Dezenas de pessoas que aguardavam ajuda humanitária em Gaza foram mortas e muitas outras ficaram feridas em ataques atribuídos a forças israelenses, incluindo disparos de drones, segundo relatos de testemunhas e profissionais de saúde palestinos. A violência foi registrada nesta terça-feira (24) em área de atuação da Gaza Humanitarian Foundation (GHF), criada pelos EUA para gerenciar o fornecimento de bens essenciais à região em meio ao bloqueio imposto por Israel. As informações são da agência Al Jazeera.
Desde o início das operações da GHF, no final de maio, a situação nos pontos de ajuda tem sido marcada por cenas de violência e mortes. O bloqueio israelense, que durou mais de dois meses, agravou a crise humanitária, aumentando o desespero da população.
Testemunhas informaram que, em um dos episódios mais graves na rua Salah al-Din, ao sul de Wadi Gaza, ao menos 25 pessoas foram mortas e mais de 140 ficaram feridas, sendo 62 em estado grave. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram corpos sendo levados ao hospital al-Awda, próximo ao campo de refugiados de Nuseirat.

Relatos similares vêm do complexo médico Nasser, em Khan Younis, onde civis que aguardavam auxílio na rua al-Tina teriam sido atingidos por tiros. Gaza City, no norte, e Rafah, no sul, também registraram ataques contra pessoas próximas aos pontos de distribuição.
Um repórter da Al Jazeera descreveu o hospital al-Shifa, em Gaza City, como “um banho de sangue”, com vítimas morrendo enquanto esperavam atendimento. Segundo testemunhas, soldados israelenses abriram fogo contra pessoas que se aproximavam dos caminhões de ajuda, situação definida por um dos relatos como “um massacre”.
O Exército israelense informou que está revisando as denúncias de mortes perto do corredor militarizado Netzarim e afirmou que disparos anteriores foram reações a suspeitos que se aproximaram das tropas. Organizações humanitárias e testemunhas, porém, alegam que muitos tiros foram disparados sem aviso prévio.
Desde o início da distribuição da ajuda pela GHF, mais de 400 pessoas foram mortas e cerca de mil ficaram feridas em confrontos, conforme relatos de testemunhas. Philippe Lazzarini, chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), definiu o sistema como “uma abominação” que “humilha e degrada pessoas desesperadas” e chamou o modelo de “uma armadilha mortal que custa mais vidas do que salva”.
A Comissão Internacional de Juristas condenou a atuação da GHF e pede o fim das operações humanitárias militarizadas e privatizadas em Gaza. Philip Grant, diretor-executivo da ONG TRIAL International, afirmou que o modelo “viola princípios humanitários fundamentais” e que os envolvidos podem responder por “cumplicidade em crimes de guerra”.