A visita do líder norte-coreano Kim Jong-un à China, prevista para a próxima semana, pode ter também um componente diplomático além da participação no desfile militar em Beijing. Analistas apontam que o líder norte-coreano busca reforçar sua relação com Xi Jinping como estratégia para retomar negociações com os Estados Unidos. As informações são da Associated Press.
Entre 2018 e 2019, Kim esteve quatro vezes na China, em encontros que antecederam cúpulas decisivas com Donald Trump sobre o programa nuclear. Embora a recente aproximação com Moscou tenha gerado atritos com Beijing, especialistas afirmam que o apoio político e econômico chinês continua sendo fundamental para o regime.

“Comparecer ao desfile em Beijing é uma forma de mostrar boa vontade com Xi, de olho em voltar a negociar com os EUA em posição de força”, avalia Leif-Eric Easley, professor da Universidade Ewha, em Seul.
Trump, por sua vez, voltou a mencionar seu histórico de encontros com Kim. Em Washington, relembrou a reunião na Zona Desmilitarizada entre as Coreias e afirmou ter interesse em retomar o diálogo. Até o momento, Pyongyang tem rejeitado investidas, mas especialistas acreditam que as negociações podem ser reabertas caso Washington sinalize concessões mais amplas.
Montanha-russa
Durante seu primeiro mandato na presidência dos EUA, entre 2017 e 2021, Donald Trump trocou ameaças e afagos com o líder da Coreia do Norte Kim Jong-un. No início do governo, prometeu “destruir totalmente” o país comunista, para um ano depois dizer que se “apaixonaram” após uma troca de cartas. A relação entre ambos é, desde já, uma das incógnitas com vistas ao retorno do norte-americano ao poder em janeiro de 2025, com a esperança de que sejam retomados os diálogos para desnuclearização da Península Coreana. O cenário atual, entretanto, é mais tenso que o de oito anos atrás, com Pyongyang ostentando um arsenal nuclear ampliado e mergulhada em uma aliança com Moscou que tira o sono do Ocidente.
A relação entre Trump e Kim foi uma montanha-russa, e em determinado momento criou a expectativa de que o líder norte-coreano seria convencido pelo homólogo a abrir mão de seu arsenal de destruição em massa, ou ao menos a reduzi-lo. No início do mandato, no entanto, eles trocaram ofensas e ameaças, e o norte-americano ameaçou destruir a Coreia do Norte após esta sugerir um ataque contra a ilha de Guam, no Pacífico Ocidental, onde os EUA mantém instalações militares.
Atualmente, Pyongyang tem entre dez mil e 12 mil soldados em solo europeu para apoiar Moscou em sua guerra contra a Ucrânia, que tem nos EUA seu o principal financiador militar. Mais do que um aquecimento das tensões, porém, o retorno de Trump ao poder gera a expectativa de novas negociações com o objetivo de reduzir o poder nuclear norte-coreano.