A polícia do Paquistão prendeu 260 pessoas e utilizou gás lacrimogêneo nesta segunda-feira (8) para dispersar manifestantes durante uma greve no Baluchistão, província mais pobre e instável do país. A mobilização ocorreu em protesto contra um ataque suicida reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), que matou 15 pessoas em 2 de setembro, durante um comício político em Quetta. As informações são do South China Morning Post.
Comércios fecharam e ruas foram bloqueadas em mais de uma dezena de cidades. Na capital provincial, Quetta, a polícia entrou em confronto com manifestantes que impediam a circulação de veículos.
“O governo já havia alertado os manifestantes de que, embora tenham o direito democrático de protestar pacificamente, não podem forçar as pessoas a deixar as estradas, interromper o tráfego ou obrigar o fechamento de estabelecimentos”, afirmou o superintendente sênior de polícia, Muhammad Baloch.

O Partido Nacional do Baluchistão (BNP), alvo do atentado, havia convocado a população a se unir para cobrar responsabilização. “O Estado não é responsável por isso? Não era dever do Estado proteger essas pessoas inocentes?”, questionou o líder da legenda, Akhtar Mengal.
A província, rica em recursos naturais, mas com os piores índices de desenvolvimento humano do país, é frequentemente palco de ataques de insurgentes separatistas balúchis e de militantes jihadistas ligados ao Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), braço regional do grupo extremista.
O ano passado foi o mais violento em uma década no Paquistão, com escalada da violência ao longo da fronteira com o Afeganistão.
Por que isso importa?
O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos balúchis, um povo muçulmano essencialmente sunita originalmente iraniano que habita a área.
A porção paquistanesa é a mais extensa e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004. Organizações extremistas islâmicas, caso do TTP, ajudam a aumentar a tensão.
A luta dos separatistas é por maior autonomia política em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), anunciado em 2015, estaria sugando as riquezas da região sem melhorar as condições da população local.
Com um orçamento de US$ 60 bilhões, o CPEC projeta ligar a cidade portuária de Gwadar, no Baluchistão, a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de obras rodoviárias e ferroviárias. O acordo ainda prevê projetos de energia para atender às necessidades de abastecimento do Paquistão.
Os balúchis argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas da região.
O principal grupo radical atuante no Baluchistão é o BLA, que em 2019 foi inserido pelos EUA na lista de grupos terroristas internacionais. A BLF é outra organização de forte presença na região.