O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que Washington está tentando retomar a Base Aérea de Bagram, localizada próxima a Cabul e hoje sob controle do governo interino do Taleban. As informações são da Anadolu.
A afirmação foi feita durante uma coletiva no Reino Unido, ao lado do premiê britânico Keir Starmer. Trump afirmou:
“Nós a entregamos de graça. Aliás, estamos tentando recuperá-la”.
Bagram foi a principal base militar americana no Afeganistão após os atentados de 11 de setembro de 2001 e tem posição estratégica na Ásia Central.

Especialistas: “quase impossível”
A possibilidade de tropas estrangeiras voltarem ao Afeganistão é vista como improvável por analistas.
Suhail Shaheen, embaixador designado do Taleban na ONU (Organização das Nações Unidas), disse que Cabul busca relações amigáveis com os EUA, mas advertiu que “qualquer ambição cobiçosa deve considerar a história do Afeganistão”.
O especialista Ibraheem Bahiss, do Crisis Group, reforça:
“As chances de qualquer presença de tropas estrangeiras no Afeganistão são quase nulas”.
Mansoor Ahmad Khan, ex-embaixador do Paquistão em Cabul, concorda:
“Se aceitarem tropas americanas em Bagram ou em qualquer outro lugar, será impossível justificar sua luta contra forças estrangeiras”.
Riscos para a legitimidade do Taleban
A Base Aérea de Bagram, construída pela União Soviética e expandida pelos EUA, é vista como um ponto estratégico, mas também um risco político para o Taleban.
De acordo com Ahmed-Waleed Kakar, analista afegão baseado no Reino Unido:
“Permitir tropas americanas colocaria em risco sua legitimidade como força patriótica e religiosa.”
Efeitos na geopolítica: China e Rússia em alerta
Desde que voltou ao poder em 2021, o Taleban só foi reconhecido oficialmente pela Rússia, enquanto a China foi o primeiro país a aceitar um embaixador do grupo.
A retomada de Bagram pelos EUA poderia enfraquecer a aproximação diplomática do Taleban com Beijing e Moscou, alertam especialistas.
O consultor político Noor Ahmad destacou que, embora o Taleban possa oferecer oportunidades de negócios, como exploração mineral, “ceder Bagram é impossível”.
O que está em jogo para os EUA
Trump já declarou que sua preocupação não é apenas com o Afeganistão, mas com o avanço da China na região.
Para analistas, a pressão americana por Bagram poderia representar uma tentativa de contrabalançar a influência chinesa e russa na Ásia Central.
Entretanto, como resume Bahiss:
“Esperar que o Talibã faça concessões em Bagram é demais, especialmente porque nem em questões de direitos humanos eles cederam.”